Terça-feira, 15 de maio, segundo dia do julgamento do caso “radialista Ronaldo Santana”. Os trabalhos começaram por volta das 9h da manhã, no fórum de Eunápolis, no bairro Dinah Borges.
Os quatro réus são Paulo Dapé, que era prefeito do município à época do crime e três servidores comissionados do seu governo: Valdemir Batista Oliveira (atualmente vereador), Antônio Oliveira Santos (bancário aposentado) e a sacerdotisa Maria Sindoiá.
Segundo o site Radar64, previsão é que o júri, ao contrário do que estava previsto, termine ainda nesta terça-feira (15), pois 14 testemunhas foram dispensadas pela defesa na segunda-feira. Durante a tarde, os réus foram interrogados. Todos disseram que a morte do radialista seria de difícil solução, pois ele criticava e denunciava muita gente. A fase dos debates entre defesa e acusação deve ser concluída nesta terça-feira.
O promotor de justiça Ariomar da Silva afirmou que os réus atuaram na intermediação, pagamentos, empreitada do homicídio e outros foram os autores materiais. “São provas contundentes, efetivas, inclusive já tem um condenado em virtude disso. Nós vamos fazer nosso papel, mas a comunidade de Eunápolis, através dos setes jurados aqui, vai dizer se o caso comporta absolvição ou condenação. Temos nos autos elementos suficientes para condenação”, afirmou Ariomar, que atua na acusação, acrescentando que os acusados adotaram todas as medidas possíveis para que o julgamento não acontecesse.
O radialista Jota Bastos, que apresenta um programa jornalístico na Ativa FM, em Eunápolis, afirmou que a morosidade da justiça e os recursos protelatórios contribuem para que “fique no ar a sensação de impunidade”, fator determinante para que mais profissionais da imprensa sejam mortos, como continuou ocorrendo na região após o assassinato de Ronaldo Santana.
“Se houvesse rapidez no julgamento, inocentando ou punindo os acusados, isso inibiria esse ataque à imprensa. Porque muita gente quando se vê apertado, denunciado, tende a fazer o que foi feito com Ronaldo Santana”, lamentou Bastos.
Pistoleiro denunciou réus – Ronaldo Santana foi assassinado na manhã de 9 de outubro de 1997, na avenida Duque de Caxias, centro da cidade, enquanto se deslocava para o trabalho na Rádio Jornal. Baleado por dois homens que estavam em uma moto, ele morreu pouco tempo depois no Hospital José Ramos Neto.
Em novembro de 2002, após desmembramento do processo, o ex-policial militar Paulo Sérgio Mendes Lima foi julgado em Eunápolis e confessou que o então prefeito Paulo Dapé foi o mandante do crime. Os jurados acataram a tese do Ministério Público de homicídio qualificado mediante recompensa e o condenaram por sete votos a zero. Paulo Sérgio já cumpriu a pena.
Segundo denúncia do promotor João Alves Neto, além de participar do crime, Paulo Sérgio contratou o executor dos tiros que mataram Ronaldo, Alexandro Borges, o Alex.
Na ocasião, Dapé negou que tivesse sido o mandante e estava sendo “vítima de perseguição política”. Ele garantiu que tinha provas de sua inocência, mas preferiu voltar suas baterias contra o promotor, a quem acusa de ter feito “uma armação” para prejudicá-lo. João Alves não atua no julgamento desta semana. Ele alegou impedimento.
CRONOLOGIA DO CRIME
18/11/1998 – Paulo Sérgio Mendes Lima dá novo depoimento em Salvador e confirma tudo o que disse em Goiânia
18/11/1998 – O delegado Júlio Souza pede a prisão temporária de Maria José Ferreira Souza (Maria Sindoiá), Antônio Oliveira Souza (Toninho do Caixa) e Waldemir Batista de Oliveira (Dudu), citados por Paulo Sérgio Mendes Lima em seu depoimento como intermediários no crime. Eles são levados a depor em Salvador. Negam seu envolvimento no crime e são liberados em seguida
19/11/1998 – Em acareação feita com a funcionária Maria Sindoiá, Paulo Sérgio Mendes Lima confirma seu depoimento. Maria Sindoiá diz que Lima esteve conversando com ela, mas não para acertar a morte do radialista
10/12/1998 – Na data de comemoração dos 50 anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, 61 entidades assinam a Carta de Eunápolis pedindo o fim da impunidade
22/01/1999 – O Departamento de Direitos Humanos do Ministério da Justiça encaminha ao Ministério Público da Bahia um pedido para agilizar a investigação sobre o assassinato de Ronaldo Santana.
5/02/1999 – Paulo Sérgio Mendes Lima dá um novo depoimento, com registro no cartório de Goiânia (Goiás). Desmente tudo o que disse antes sobre o prefeito Paulo Dapé. Disse que deu o primeiro depoimento sob pressão.
4/03/1999 – Paulo Sérgio Mendes Lima dá um novo depoimento na Delegacia de Investigações Criminais em Goiânia, novamente desmentindo que a ordem do assassinato havia sido dada por Paulo Dapé e outros detalhes do primeiro depoimento.
15/03/00 – Lima é condenado, em Goiânia, por crime de lesões graves com resultado presumível pela participação na morte de Sebastião Alves Nogueira. A pena de um ano, quatro meses e 15 dias de privação de liberdade, já havia sido cumprida, porque ele estava preso desde novembro de 1998. Mas ele permanece na Casa de Prisão Provisória devido ao pedido de prisão preventiva relativo ao crime de Ronaldo Santana de Araújo, na Bahia. Diz que está convertido à Igreja Adventista.
27/11/02 – Paulo Sérgio Mendes Lima foi condenado a 19 anos de prisão pelo assassinato do radialista Ronaldo Santana. O julgamento ocorreu em Eunápolis e os jurados acataram a tese do Ministério Público de homicídio qualificado mediante recompensa e condenaram o motorista por sete votos a zero.
Informações Radar64