Há dias de inverno que são como um milagre. O outono passou, as folhas começaram há muito a amarelar, e aqui em Salvador o vento assobia em todas as esquinas, enquanto nossa cidade continua suja e violenta.
Nós aceitamos isso. Mas, ao acordar ontem percebi, incrédulo, uma estreita faixa de azul luminoso que brilha no quarto entre as cortinas. Totalmente espantado, pulo da cama , abro a janela , uma onda de trêmula luz vem em minha direção, e ao mesmo tempo ouço o canto dos pássaros entre os ruídos da rua, enquanto parece que estou inspirando, o ar fresco e leve de um dos dias de inverno, a incomparável fragrância umida do mês de julho.
É inverno, tudo indica que é inverno apenas no calendário, e você se veste ansioso a fim de ganhar rápido as ruas e, sob o céu cintilante, chegar ao Parque da Cidade. Um dia inesperado e singular como esse aconteceu há cerca de quatro meses, quando me deparei com algo extraordinariamente belo.
Antes das nove da manhã já estava pronto e sentia-me plenamente leve e animado, tomado por vaga esperança de mudança, surpresas e felicidades, quando tomei o caminho para o Parque da Cidade. Iniciei a subida pelo lado direito do parque, contrário à entrada do bairro da Santa Cruz, e percorri toda a extensão. Nesta hora não havia quase ninguém.
Os bancos ao longo do caminho estavam solitários, e aqui e acolá uma estátua surgia entre as árvores, reluzindo brancas devido ao sol, enquanto uma folha murcha podia tombar suavemente sobre elas. O silêncio que ouvia enquanto mantinha o olhar direcionado ao panorama luminoso permaneceu imperturbável até eu alcançar o final e voltar.