“Pois o Reino dos céus é como um proprietário que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha.” (Mateus 20.1)
Os evangelhos estão cheios de parábolas que procuram nos esclarecer sobre o Reino dos céus, o Reino de Deus. Elas nos desafiam, pois contradizem nossa lógica e questionam nossos pressupostos. Algumas delas nos parecem bastante estranhas, ao ponto de nos perguntarmos: porque Jesus diria algo assim? Se você é um leitor dos evangelhos, creio que compreende o que digo. Na parábola que encontramos em Mateus 20, a partir do verso 1, o Reino dos céus (o Reino de Deus) é comparado a um empregador que contratou trabalhadores ao longo de um dia. Uma turma ele contratou logo cedo, outra algumas horas depois, outra ao meio dia, outra as três da tarde e, por fim, mais uma faltando apenas uma hora para o fim do expediente. Um denário – uma moeda de prata, que era a de maior valor a circular no império romano – era o salário devido por um dia de trabalho.
Ao final do dia, aquele empregador chamou os contratados para receber o seu pagamento. Ele começou pelos que foram contratados por último e terminou com os que foram contratados primeiro. E a todos pagou o mesmo salário: um denário. O que isso lhe sugere? Injustiça ou generosidade? Se você fosse um dos trabalhadores que foram contratados logo cedo, como se sentiria? A parábola diz que eles se sentiram injustiçados. Eu também me sentiria assim, muito provavelmente! Embora tivessem recebido o salário devido por um dia de trabalho o fato de outros ganharem tanto quanto eles, sem terem trabalhado o mesmo número de horas, fez com que sentissem como se tivessem recebido menos que o devido. Eles se sentiram injustiçados. Certamente que, se quem trabalhou menos recebesse menos, o denário recebido pareceria justo! Percebe o que Jesus está expondo nesta parábola? Ele está expondo o coração humano. Um coração que precisa mudar! E precisa mudar na direção do Reino de Deus.
Nosso egoísmo, inveja e mesquinhez são a reprodução do padrão humano, separado de Deus. Para nos aproximarmos dos padrões do Reino precisamos, acima de tudo, ser guiados pelo amor. O que o amor faria pelos trabalhadores que foram contratados primeiro? Faria com que se sentissem gratos por terem sido contratados em lugar de sentirem-se inseguros e temer um dia improdutivo e sem salário. Faria com que celebrassem o fato de todos poderem voltar para casa com o bastante, e suprirem suas necessidades. Guiados pelo amor, a bondade superaria a inveja e o egoísmo. Em lugar de injustiça, veriam generosidade e louvariam o empregador por ser bondoso. Num mundo desigual, injusto, desequilibrado, invejoso, egoísta e mesquinho, brilhar como filhos da luz é sermos guiados pelo amor e aprendermos uma nova lógica: a do Reino dos céus. A vida religiosa produz uma mentalidade religiosa. A vida cristã, uma mentalidade cristã. E as duas são bastante diferentes!