“Mas Eliú, filho de Baraquel, de Buz, da família de Rão, indignou-se muito contra Jó, porque este se justificava a si mesmo diante de Deus.” (Jó 32.2)
Eliú é o quarto elemento. Ele fala apenas agora, pois sendo o mais jovem, esperou para ouvir primeiro a experiência e sabedoria dos mais velhos. Uma atitude muito boa. Diz o texto que ele ficou “muito indignado”. A indignação é um tipo de revolta, de reação contra alguém ou alguma coisa. É um sentimento que decorre, normalmente, de nosso senso de justiça, mas que pode produzir injustiça. Nossa limitação e nossa imperfeição podem nos trair. Nossa maldade residente pode manifestar-se. A indignação costuma ser sempre intensa, muita, proporcional às nossas emoções e nem sempre proporcional à realidade, que pode estar completamente oculta.
Escrevo esta meditação num momento em que, na cidade de Guarujá – Litoral de São Paulo, uma mãe de 33 anos foi linchada porque sua imagem foi associada a um retrato falado, supostamente de uma mulher que teria matado crianças. A população ficou muito indignada, sem nenhuma razão, e matou brutalmente. Seria a indignação de Eliú boa ou má? Não parece ter ido além de um severo discurso, mas quantas vezes na história, em defesa do que se cria, barbaridades foram feitas? Inclusive em nome de Deus? Quantas vezes a indignação dentro da igreja reproduziu a maldade das ruas? Logo nela, cuja vocação é mudar as ruas! Como podemos nos preparar para que nossa indignação produza vida e não morte?
Precisamos imitar a Cristo, nosso Mestre. Ele tornou-se um de nós, encarnou-se, foi misericordioso, sua indignação com o pecado o fez entregar-se pelos pecadores. Entre nós ele acolheu, perdoou, restaurou. Eu e você sabemos como Ele nos trata sendo quem somos. Para que nossa indignação gere vida, devemos fazer o mesmo. Uma igreja é cristã se sua indignação contra o pecado promove acolhimento e cuidado com pecadores. Afinal, ela se compõe de pecadores! É fácil indignar-se por alguma coisa. É fácil agir na indignação. Difícil é indignar-se da maneira certa, contra a coisa certa, da forma certa. Só a graça de Deus nos leva a isso.