A transformação do Palácio Paranaguá no Museu da Capitania de Ilhéus e a criação do Porto das Artes na área do antigo porto, em parceria com a Codeba, são as prioridades para o prefeito Jabes Ribeiro para a cultura nos próximos meses. Técnicos da Prefeitura e do Ipac já trabalham nestes projetos.
Quando o rei dom João III presenteou o fidalgo Jorge de Figueiredo Correia, em 26 de junho de 1534, com uma vasta extensão de terra do território recém descoberto por Portugal no outro lado do Oceano Atlântico, lançava além mar as raízes históricas e culturais de Ilhéus, uma cidade que se notabilizou como um dos mais importantes berços cultural da Bahia e do Brasil.
No próximo sábado (28), Ilhéus festeja seu aniversário de 480 anos de fundação e 133 anos de elevação da cidade, ato legalizado pelo Marquês de Paranaguá, em 28 de junho de 1881. A festa é amplificada pelo clima de otimismo e esperança que anima os ilheenses, proporcionado pelo conjunto de obras vultosas que o município receberá em futuro bem próximo, algumas delas já em execução, como a nova ponte do Pontal.
Enquanto avança na trilha das obras estruturantes, Ilhéus não perde de vista a perspectiva cultural que lhe deu projeção internacional e cimentou a base para o turismo, uma dos principais pilares da economia local. Nesse sentido, o prefeito Jabes Ribeiro considera prioritários as ações, programas e projetos executados pela Secretaria Municipal de Cultura (Secult).
O gestor da pasta, Paulo Atto, destaca a recuperação e revitalização dos equipamentos culturais encontrados em péssimo estado de conservação, seja por falta de manutenção, de uso ou por abandono. “Já iniciamos, com recursos próprios, a primeira etapa da obra de reforma do prédio do antigo Grupo Escolar General Osório, onde será novamente instalada a Biblioteca Pública Adonias Filho e iremos recuperar o Teatro Municipal a partir da assinatura da ordem de serviço para a reforma”, cita o secretário, enfatizando também a revitalização do Centro Cultural de Olivença, hoje em pleno funcionamento com eventos, reuniões da comunidade indígena e cursos.
Casa Jorge Amado – Para Paulo Atto, a requalificação da Casa de Cultura Jorge Amado é uma das ações mais importantes da Secult no bojo da recuperação dos equipamentos, por tratar-se de uma atração internacional. “Também é, atualmente, a única casa em que o escritor viveu que funciona como espaço cultural”, enfatiza.
A requalificação desse importante sítio cultural inclui não somente intervenções físicas – recuperação do telhado, pintura e instalação de novos sanitários já em funcionamento para atender melhor aos visitantes – como também a renovação do acervo. “Até agosto próximo, teremos uma nova sala, mais interativa, para a exposição das capas dos livros de Jorge Amado”, adianta Paulo Atto.
O secretário grifa também a última homenagem do município e governo do Estado ao escritor, com a instalação da escultura confeccionada pelo artista plástico Tatti Moreno na entrada da Casa de Cultura, em março deste ano, cuja inauguração contou com a presença da neta do escritor, Maria João Amado, prefeito Jabes Ribeiro e autoridades. A peça é hoje uma das atrações do centro histórico de Ilhéus.
Gestão participativa – A capacitação continuada dos agentes, produtores e artistas culturais do município, através de muitos cursos e seminários, é um espelho da gestão participativa que o prefeito Jabes Ribeiro definiu para o setor. Segundo Paulo Atto, esses cursos estão sendo realizados desde 2013, e continuarão ao longo de toda a gestão. “No segundo semestre deste ano, teremos um leque de ações e programas a serem realizados com recursos do Fundo de Cultura, que somam um total de R$ 152 mil reais”, diz o secretário.
A terra que se projetou mundialmente por ter sido o berço de Jorge Amado, Sosígens Costa, Abel Pereira e outros notáveis da Literatura brasileira trata a cultura com a prioridade e importância que o setor merece. Para isso, a Secult não poupa apoios aos eventos e ações sediados no município, como o Festival de Cinema da Bahia (Feciba) e o Festival Latino Americano de Teatro, encontros de capoeira, entre outros.
Se o passado cultural é fonte constante de aprendizado, inspiração e orgulho para os ilheenses, o futuro é um desafio que impulsiona a criatividade, o trabalho árduo e o compromisso com os artistas e suas obras. O secretário Paulo Atto assegura que neste ano a Secult realizará novamente a Caravana Canto das Letras, que faz parte do programa de incentivo à leitura e reforçará o trabalho conjunto com os parceiros institucionais.
Entre os parceiros da cultura ilheense, Paulo Atto sublinha o Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia (Ipac), a Secretaria Estadual para Assuntos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 (Secopa), o Teatro Castro Alves, a Fundação Casa de Jorge Amado, o Instituto Mauá, a Universidade Estadual da Bahia (Uneb), o Sebrae e a TV Santa Cruz, com quem o município promoveu o São João nos Bairros, projeto que tanto agradou aos ilheenses.
Museu e Porto das Artes- Enquanto cumpre as ações e obras constantes no Plano Plurianual (PPA) 2014-2017 e definidos na III Conferência Municipal de Cultura, realizada em agosto de 2013, a Secult trabalha intensamente para viabilizar os dois projetos definidos pelo prefeito Jabes Ribeiro como primazia para o setor: a transformação do Palácio Paranaguá no Museu da Capitania de Ilhéus e a criação do Porto das Artes na área do antigo porto, em parceria com a Codeba.
“Este ano, já recebemos duas museólogas do Ipac que atuam na orientação técnica para estes projetos”, salienta Paulo Atto. Segundo ele, o memorial e o projeto do Porto das Artes já estão prontos. “Agora os engenheiros e arquitetos da Prefeitura trabalham na elaboração do Orçamento e detalhamento das plantas hidráulica, elétrica e dos outros requisitos técnicos do projeto”.
As obras, ações e programas da Secult se entrelaçam com uma ação considerada fundamental pelo secretário Paulo Atto, a assessoria para criação de pontos de cultura em Ilhéus, através do edital do Ministério da Cultura. “Foram criados três novos pontos de cultura: a Associação dos Machadeiros (AMAO), a Associação de Capoeira Liberdade (Mestre Gordo) e a Associação Casa da Cultura Popular, coordenada pela artista Janete Lainha.”
Quase 500 anos de história – A Capitania de São Jorge dos Ilhéus foi constituída pela doação de 50 léguas de costa que o rei Dom João III fez ao escrivão Jorge de Figueiredo, em 1534. Instalada em 1535 na Ilha de Tinharé, antigo domínio da Capitania de Ilhéus, a sede administrativa logo se mudou para a região da Foz do Rio Cachoeira, a chamada Baía de Ilhéus.
Jorge de Figueiredo enviou o déspota espanhol Francisco Romero para representá-lo na administração da capitania. Em 1754, o governo português acabou com o sistema de capitanias hereditárias e as terras brasileiras voltaram para as mãos da monarquia portuguesa. Romero se instalou na ilha de Tinharé, onde fica o Morro de São Paulo e depois, quando descobriu o que seria, mais tarde, a Baía do Pontal, se encantou e fundou a sede da capitania, dando-lhe o nome de São Jorge dos Ilhéos: São Jorge, uma homenagem ao donatário Jorge e Ilhéus, devido à quantidade de ilhas (ilhéos) que encontraram no seu litoral.
Instalada em 1535 na Ilha de Tinharé, antigo domínio da Capitania de Ilhéus, a sede administrativa logo se mudou para a região da Foz do Rio Cachoeira, a chamada Baía de Ilhéus. A amizade dos colonizadores com os nativos tornou possível a fundação da Vila de São Jorge dos Ilhéos, que se transformou em freguesia em 1556 por ordem de dom Pero Fernandes Sardinha. Considerada por Tomé de Sousa como “a melhor coisa desta costa, para fazenda”, a região se tornou produtora de cana-de-açúcar e ganhou muitas construções.
Nos seus primeiros 15 anos, o progresso da vila era enorme e atraía todo tipo de pessoa. Jorge de Figueiredo doou pedaços de terra que se chamavam sesmarias a diversas figuras importantes do reino e, em 1537, doou uma sesmaria a Mem de Sá, que seria o terceiro governador-geral do Brasil, localizada no que foi chamado de Engenho de Santana, e onde hoje está localizado o povoado de Rio do Engenho.
Civilização do cacau – Em 1746, Antonio Dias Ribeiro, da Bahia, recebeu algumas sementes do grupo Amelonado – Forastero, de um colonizador francês chamado Luiz Frederico Warneau, do Pará. Assim, introduziu o cultivo na Bahia. O primeiro plantio foi feito na fazenda Cubículo, às margens do rio Pardo, no atual Município de Canavieiras. Em 1752, foram feitos plantios no Município de Ilhéus.
A partir da década de 1770, a coroa portuguesa passou a incentivar o plantio de novas lavouras de exportação para diminuir a dependência do comércio do açúcar. Teve início o plantio de lavouras alternativas como café, cacau e algodão.
O começo do cultivo comercial no município ilheense foi em 1820. Os pioneiros foram principalmente suíços e alemães com capital. A partir de 1835, o cacau tomou parte regular nas exportações anuais da província. Seu valor era pequeno em relação ao total das exportações provinciais, mas o cacau foi um dos raros produtos agrícolas a crescer de importância na receita da Bahia no século XIX.
Em 1860, ocorrem as primeiras exportações do produto para o mercado norte-americano (sessenta e sete toneladas de cacau baiano para o porto de Filadélfia). Nas primeiras décadas do século XX, o cacau era o mais importante produto de exportação da Bahia e vários fazendeiros de origem humilde, proprietários de vastas plantações de cacau e de importantes casas comerciais, tornaram-se os novos ricos da sociedade baiana.
Nos anos 1930, os fazendeiros de cacau são apresentados como um grupo de homens que haviam trabalhado para a construção da riqueza regional, apesar das enormes dificuldades econômicas e sociais. Em 1931, o governo federal declarou uma moratória nas execuções das dívidas dos agricultores de cacau e, através de Tosta Filho, criou o Instituto de Cacau da Bahia (ICB).
Jorge Amado chama a atenção para o cenário do cacau com obras como Cacau (1933), seu segundo romance, seguido por Terras do sem fim (1943), narrativa sobre a saga da conquista da terra e a origem social dos coroneis, e São Jorge dos Ilhéus (1944), continuação do enredo anterior e que, como Gabriela Cravo e Canela (1958), aborda as mudanças no contexto social e econômico da região cacaueira.
Secretaria de Comunicação Social – Secom
Ilhéus – 27.06.14