Como polícia não apareceu no local, família enterrou corpo por conta própria.
‘Já estava com mau cheiro’, diz tia da menina.
Uma criança de dois anos morreu dentro de casa após sentir dores na barriga, na manhã da terça-feira (2), no distrito de Inema, na cidade de Ilhéus, na Bahia. A família solicitou ao Departamento de Polícia Técnica (DPT) da cidade para retirar o corpo da criança do local, mas o corpo ficou na casa da família durante 24 horas. As informações foram confirmadas pela tia da vítima, Carleandra Lima, que acompanhou todo o drama do irmão, pai da criança.
“O corpo dela ficou em decomposição durante 24 horas dentro de casa. Quando eu recebi a notícia, eu estava na casa onde trabalho e contei tudo para a minha patroa. Ela me orientou que eu deveria entrar em contado com a polícia”, contou a tia da criança.
Ela disse também que ficou muito nervosa com toda a situação e foi a patroa quem acabou entrando em contato com a polícia e tentando resolver a situação. “Em um primeiro momento, o plantão da Polícia Civil disse que o carro sairia às 14h para ir buscar o corpo da criança. Como o carro não chegou, retornei a ligação e eles disseram que era para o pai da criança pegar um carro e levar o corpo até o DPT. O pai só tinha o dinheiro para comprar o caixão. A polícia me orientou então, a entrar em contato com a assistência social da Prefeitura de Ilhéus. Quando deu meia-noite, uma representante da prefeitura me retornou a ligação e disse que resolveria o problema, então fui dormir um pouco mais tranquila”, contou Laisa Oliveira.
Só que Laisa não imaginou a situação não estava perto de ter um fim dígno. “No dia seguinte, quando acordei, soube que o corpo continuava lá. Então retornei para o representate da prefeitura, que não atendeu mais as minhas ligações. Depois o delegado da polícia me ligou, me pediu desculpas e disse que estava com as mãos atadas, pois estava sem carro e o rabecão estava em ocorrência de um crime. Ele me instruiu a passar para os pais da crianças, que ele fizesse o enterro com um documento escrito a próprio punho com a assinatura das testemunhas, com nomes e números de documentos de quem assinasse”, disse.
A criança foi enterrada dessa forma no cemitério de Inema na terça-feira (3). “Já estava com mau cheiro”, disse a tia da criança.
O Chefe de Gabinete da Prefeitura de Ilhéus, Vitor Veiga, disse ao G1 que a prefeitura não teria como retirar o corpo do local e que a responsabilidade era da polícia. “Deixei claro que a Prefeitura de Ilhéus estava disposta a fazer o transporte da criança, sendo que tudo deveria seguir a forma legal, obedecendo os preceitos legais.Teria que ter um médico ou um profissional que pudesse atestar o óbito por causas naturais. O médico teria que ser do DPT. A prefeitura então não encaminhou o veículo porque o DPT não tinha um médico para atestar o óbito”, contou.
O delegado da cidade, Cedar Fontes, disse que em casos de morte natural, a polícia não tem como fazer a remoção do corpo. “Eu estava atendendo a 13 cidades no momento, substituindo o Coordenador Regional de Ilhéus, ele estava no Rio Grande do Sul. O distrito é muito longe e a prefeitura não conseguiu o veículo. Quando a morte é natural não há deslocamento do DPT para o local. Isso só em morte com violência”, explicou.
Fonte: Cássia Bandeira e Ingrid Maria Machado/G1