Ignorância

Ignorância

É mais do que necessário escrever sobre a ignorância, neste momento em que ela se tornou arrogante. Nos últimos tempos, fomos assolados por uma ignorância agressiva. O presente ódio à ciência tem tudo a ver com o repúdio à verdade, que faz multidões consagrarem nas urnas, aqui e nos vários continentes habitados, a mentira despudorada. Para mim, a verdade é sempre provisória; não sou seu dono. Os filósofos da Grécia recusavam o título de sábios, diziam que eram amigos da sabedoria (ou do saber). Como amigos, procuro ficar perto da verdade, sabendo que toda descoberta é provisória. Sócrates dizia: “Só sei que nada sei”. Mas o que temos na ciência é uma busca de algo que ainda chamamos de verdade. Nesta crise de 2008, que derrubou a maior parte das economias, temos assistido a uma intensa produção de ignorância. A razão cedeu lugar à paixão, é no seio destas, às negativas, ao ódio mais que ao amor. A briga mais que a amizade. A pergunta que faço é: por quê? Sei que a ignorância, como a miséria, não é um resto que o progresso está extirpando, e que reduzirá a nada, e sei que minhas palavras são inúteis; a ignorância e a miséria sempre existirão.

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