Acordo inesperadamente e injustificadamente cedo, sem saber direito onde estou, mas inteiramente certo de que esta cama não é a minha. O despertador de quem dorme fora é sempre assim e a primeira sensação é uma desconfiança.
Aos poucos, as ideias se arrumam, a inconsciência do sono vai cedendo lugar à lucidez das coisas exatas e a realidade se comprova na cor da parede, no desenho dos móveis, no cheiro da fronha e dos lençóis, que é uma agradável novidade olfativa.
Chego a conclusão que sou um hóspede, estou viajando. Terei um dia grande e vadio pela frente. Poderei, se quiser, continuar na cama, lendo, cochilando e, mais que tudo, gozando a perspectiva do tempo sem horário e sem tarefas . Mas decidi levantar. Assim faço minha oração de toda manhã, a que diz: “Não te deixes tomar pelo pequeno êxito e não te eleves acima do conhecimento que tens da tua frequente fragilidade” etc.
Abro a janela. A bruma baixa desfigurou a silhueta das árvores. Vai chover e o dia terá um céu triste. Fico quieto com os castigos da natureza, as esperanças, o ânimo, a ideia tranquila de existência. Basta esta manhã de vento frio, o perfume das flores. Este é um grande momento de minha vida.
Vivendo em harmonia com os elementos da vida, em uma explosão de cores e sensações: o branco ofuscante do sol, o azul cobalto do céu, a turquesa profunda do mar , ele se incorpora à paisagem, à vegetação e aos aromas, em uma espécie de fusão panteísta.
Depois de me embriagar com o ar marinho, ele se fundi com a vegetação, costeando os muros de pedras soltas. Uma felicidade que dura até o fim desta turnê, então, volto a Salvador, onde meus dias são ritmados pela rotina.
João Misael Tavares Lantyer