Homenagem ao poeta Vinicius de Moraes, por Orlando Alves Gomes

Homenagem ao poeta Vinicius de Moraes, por Orlando Alves Gomes
Foto: reprodução

O poeta e colunista Orlando Alves Gomes, para homenagear o poeta Vinicius de Moraes, escreveu:
No dia da morte do poeta Vinicius de Moraes, seu amigo Carlos Drummond de Andrade, explicando que apesar da amizade, não se encontrava com muita frequência com o diplomata que abraçou a carreira de “vagabundo”. Justificava: “Eu amava Vinícius. Às vezes nós falávamos horas por telefone. Mas eu sabia que ele também me amava e por isso sempre achei muito natural que não nos víssemos sempre”. Coisas de poeta, que só os verdadeiros poetas podem entender. É o amor que sentimos por alguém que está distante dos olhos ou do coração. Distante dos olhos, muito mais fácil. Distante do coração, quem sabe amor platônico. Não, não acredito. O problema é muito mais complexo. Mas sempre coisas de poeta.

Quem na vida ainda não amou alguém que se encontrava distante, em qualquer das formas, não pode dizer que tenha vivido realmente.
Faz parte da vida este tipo de amor. Como também faz parte da vida o amor proibido, aquele amor que exige de nós muita renuncia. Só não acredito no amor que não tem tempo.

Ah! Mas o amor sorriso, que felicidade! O amor fugitivo, então! Amor secreto, amor aventura, amor poético, afinal todas as formas de amor vale a pena. Da mesma forma, o amor de esquina, o amor cínico, o amor do faz de conta, onde o amante finge que não ama, para poder estar mais próximo de sua amada. É este amor existe em algum lugar, talvez próximo a você e você não perceba. E o amor no ar? Tenho para mim, que no ar não existem apenas substâncias químicas. Acredito que há muito mais, talvez luzes coloridas, as quais o arco-íris seja a forma mais simples.

Um coro de mulheres lindas, cabelos longos e escorridos, voz macia, olhar sensual.
Também acredito que as sereias, em seus saltos, vão levar um pouco de sua magia, alcançando pontos infinitos. Também acredito que a lua cantada pelos poetas e namorados não é a mesma que foi violentada pelos os astronautas. A lua os poetas e namorados exige que se tenha muita sensibilidade para se poder entrar. Não admite que se vá fazer experiências. Primeiro, porque não existe solo para ser tocado. Ele é feito de espuma, a mesma espuma branca das águas do mar. Todavia, na lua dos poetas e namorados, há lugar para os loucos da terra, porque estes têm sensibilidade que aqui, por ignorâncias, não foram detectadas, os mequetrefes não admitiram. Também acredito que o céu dos poetas é particular, é uma espécie de Republica independente, com governo e regras próprias.

Amar e viver não estão inseridos em nenhuma bandeira, não é fruto de positivismo e nem sonho impossível de se realizar. Na verdade, diria que amar, viver e ser feliz é o mistério que se personifica em uma unidade, onde os três são um só. É para este céu que os verdadeiros poetas vão. Tenho certeza que Fernando Pessoa, ladeado por muitos outros, estão neste momento, atentos, ouvindo Vinicius cantando seus versos, sentado num banquinho qualquer, com um copo na mão, uma garrafa, em algum botequim situado em alguma esquina do céu dos poetas. E de repente, não mais que de repente terão vontade de assinar belezas como:
De tudo, ao meu amor serei atento antes
E com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

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