“Então o Senhor Deus fez o homem cair em profundo sono e, enquanto este dormia, tirou-lhe uma das costelas, fechando o lugar com carne. Com a costela que havia tirado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher e a trouxe a ele.” (Gênesis 2.21-22
Temos uma grande necessidade: amadurecer para relacionamentos. Sermos capazes de auxiliar e corresponder, como vimos ao refletir ontem. A infantilidade relacional é um grave obstáculo à felicidade e à realização. Coisas não podem substituir bons relacionamentos e nem compensar os relacionamentos ruins. Estamos diante da narrativa da criação com um foco especial na criação do homem e sua relação com as criações de Deus. Destaque é dado à criação da mulher e o relacionamento do homem com ela. A narrativa, bem ao estilo dos rabinos, oferece-nos muitas lições. Devemos ter cuidado com as alegorias e invenções, mas sem dúvida devemos considerar as lições a serem aprendidas. Deus agiu de modo completamente independente do homem na criação da mulher. Não foi o homem quem viu a necessidade, mas Deus. Ele a criou segundo Suas próprias ideias e por Sua iniciativa. A mulher é um ser singular, assim como o é o homem. É uma criação divina, e não masculina.
O homem foi colocado para dormir e não pode opinar e nem apresentar expectativas. Deus criou realizando Seus propósitos e Seu plano. Sua vida pertence a Deus e não ao homem. Ela tem o mesmo valor que o homem. Ter sido criada dele não a torna menor, mas participante de sua essência, de sua estrutura e de seu ser. Isso salienta igualdade e não inferioridade. Deus criou a mulher de maneira tão especial que ela passou a fazer falta, embora o homem possa viver sem ela. O lugar da costela foi preenchido, mas a costela ficou faltando! A mesma perspectiva aplica-se à mulher: o homem lhe faz falta, mas ela pode viver sem ele! E é essa possibilidade de prescindir do outro que torna saudável e belo o compromisso com o outro. Estar com o outro, sobretudo, porque se quer e não porque se precisa.
As relações por necessidade são sempre, em algum grau, manipuladoras. Aquele que precisa manipulará ou se deixará manipular, ferindo a dignidade, sua ou do outro. Isso não é ideia de Deus. Na criação narrada em Gênesis homem e mulher são apresentados um ao outro por Deus. Ambos têm origem em Deus. Ambos foram formados segundo a vontade de Deus e agora estavam diante um do outro. Eles possuem recursos para o auxilio e a correspondência, como vimos ontem. Na narrativa, o homem, criado primeiro, teve o protagonismo de reagir à mulher, antes ausente, mas agora presente no seu mundo. A existência de um ser auxiliar correspondente a ele mudou completamente seu mundo. Sem precisar ser modificado, agora suas potencialidades foram ampliadas. Dois, diz Eclesiastes, é melhor que um. Mas, o pecado complicou tudo. Ainda assim a beleza e as possibilidades são possíveis. Mas, é preciso aprender e amadurecer.
ucs