A Mata Atlântica vive momento histórico. A pesquisadora Tânia Sanaiotti, coordenadora do Projeto Harpia na Mata Atlântica, fotografou um fato muito esperado, desde maio de 2008, quando a harpia Katumbayá foi solta com equipamento especial para monitoramento por satélite. Um exemplar da maior ave de rapina das Américas está construindo um ninho dentro da Unidade de Conservação Parque Nacional do Pau Brasil.
Nos últimos três meses, as equipes de monitoramento estiveram em campo para registrar os comportamentos de Katumbayá (Mãe da Mata – o nome pataxó escolhido pela comunidade indígena local). Após uma semana dentro da floresta, técnicos do ICMBio, da empresa Veracel Celulose e a coordenadora do Projeto testemunharam um predador de topo de cadeia (trófica), raro na natureza em função das pressões da caça e do desmatamento, construindo sua área de nidificação na floresta.
Há cerca de quatro meses os pesquisadores do Projeto Harpia na Mata Atlântica notaram que Katumbayá já não viajava tanto de um lado ao outro do Parque. Com base nas informações enviadas pelos satélites brasileiros ao INPE, foi possível mês a mês, acompanhar seus movimentos na floresta Atlântica do Sul da Bahia. Desde o início deste ano, ela ficou numa mesma região do Parque, se deslocando em média um raio de dois quilômetros. Antes, se deslocava em um raio de dez quilômetros. Esse foi o indício que poderia ter encontrado um par e fixado território.
O ninho é construído com ramos coletados pelo casal da árvore do ninho e de outras próximas. Neste caso, a árvore escolhida foi um embiruçu (Bombax humile), uma das mais altas da região. No seu entorno existem outras tão altas quanto à do ninho, como a juerana (Parkia pendula). Estas são usadas como poleiros pelo casal em pleno namoro. Não se sabe quanto tempo, o macho e a fêmea seguirão no namoro e na construção do ninho. Segundo Sanaiotti, ele ainda não está pronto e ainda pode aumentar de tamanho com mais ramos. “O casal passa um dia na árvore do ninho, vocalizando muito. Depois, passam vários dias voando pelo entorno, mas ainda não foi registrada cópula”, relatou a pesquisadora.
Um monitoramento semanal está sendo feito para acompanhar o ninho em construção que poderá levar meses para ficar pronto. Os cuidados durante o monitoramento para não assustar o casal são importantes, pois há muitos desafios a serem vencidos pela natureza até poder chegar ao momento dos ovos chocarem. Para os técnicos e pesquisadores, por enquanto, se pode comemorar o sucesso da harpia ter encontrado um indivíduo macho de vida livre e escolher uma árvore para construírem um ninho. “Estes são resultados inéditos para a espécie”, destacou Tânia Sanaiotti.
Os próximos momentos esperados são a oviposição, a choca, o nascimento, o crescimento e o primeiro voo do filhote. “Ai sim poderemos dizer que houve sucesso reprodutivo na natureza”, explica a coordenadora do Projeto e pesquisadora do INPA.
Morte da outra harpia monitorada traz tristeza para a comemoração
Grupo de monitoria também localizou apenas a carcaça da harpia Pakahyeru (que significa Pássaro Livre na língua pataxó). Esta ave foi devolvida à natureza em agosto de 2009 e também era acompanhada pelo Projeto Harpia na Mata Atlântica. Após cinco meses de volta à liberdade, os sinais enviados pelos satélites indicaram repetidas vezes para uma mesma localidade. Apesar de haver registro de adaptação, caçando e se deslocando pelo Parque, Pakahyeru não teve um destino feliz como Katumbayá.
A causa da morte não pode ser confirmada, pois a carcaça já se encontrava em decomposição. Um exame detalhado dos restos incluiu um Raio X e a imagem sugere a presença de um projétil, porém a bala não foi localizada nos vestígios. Isso dificulta a confirmação que a ave tenha sido vítima de disparo de arma de fogo dentro do Parque. Não se descarta também a possibilidade de um acidente ao caçar que pode ter causado o ferimento fatal.
Para toda a equipe do projeto, foi uma grande tristeza o desfecho da história de superação da ave que foi cuidadosamente preparada para voltar à vida livre. Seu processo de reabilitação e soltura à natureza levou um pouco mais de ano e contou com uma equipe multidisciplinar que avaliou disponibilidade de alimento na floresta enquanto assegurava sua autonomia para a sobrevivência. Nos cinco meses subseqüentes a soltura ela foi monitorada em campo e registrada caçando na natureza, indícios de reabilitação bem sucedida. É consenso que diante da impossibilidade de afirmar o que aconteceu, é preferível acreditar em um acidente a imaginar que a caça ilegal e predatória tenha prevalecido aos esforços de salvar espécies ameaçadas.
Projeto Harpia na Mata Atlântica
O Projeto Harpia na Mata Atlântica é patrocinado pela Veracel Celulose S.A. e desenvolvido de forma integrada pelos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (Inpa), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), Associação Brasileira de Falcoeiros e Preservação de Aves de Rapina (Abfpar), SOS Falconiformes, Crax e RPPN Estação Veracel.
Fonte: Eduarda Toralles / Ascom da Veracel Celulose