No início da manhã de ontem, moradores da Baixa do Tubo, em Cosme de Farias, encontraram um bebê recém-nascido abandonado no lixo, na Rua Jaguarari. Ainda com o cordão umbilical, a menina foi enrolada em panos e colocada dentro de um saco de lixo. A mãe e autora do abandono foi identificada como Cléa de Souza Carvalho, 27 anos.
Ela foi encaminhada para a Delegacia de Repressão a Crimes Contra Criança (Dercca), onde prestou depoimento na tarde de ontem à delegada Meire Ângela de Souza Gama. Cléa afirmou que engravidou do próprio pai, com quem mantinha há dois anos uma relação contra sua vontade. No entanto, nenhuma denúncia foi feita por Cléa em qualquer delegacia.
Após o depoimento, a acusada foi encaminhada para o Instituto Medico Legal Nina Rodrigues, onde realizou o exame de corpo de delito, e seguiu para uma maternidade, cujo nome não foi informado, para avaliação médica, como adiantou a titular Laura Argolo. O bebê foi encaminhado para o Iperba, no bairro de Brotas. Segundo informações da Secretaria Estadual de Saúde, a menina passa bem, mas continuará em observação.
O morador João Carlos Ramos de Jesus, 25 anos, contou que foi o primeiro a identificar a criança dentro do saco. “Eu estava carregando entulho e jogando aqui no lixo quando ouvi um choro bem fraquinho. Na hora pensei que fosse algum cachorro, mas quando abri um pouco o saco, vi a mãozinha da menina. Carreguei e coloquei na porta da vizinha. Abri o saco e ela chorou desesperadamente”, lembrou, ressaltando que a criança estava suja de sangue. “O cordão umbilical ainda estava preso, nunca vi uma coisa dessas”, afirmou.
Uma história traumática
Segundo moradores, Cléa Carvalho é mãe de três filhos e possui problemas mentais. Sem ajuda de ninguém, ela deu à luz dentro da casa, onde mora de aluguel com os demais filhos, e depois jogou a criança no lixo. “Ninguém sabe explicar por que ela fez isso. Apesar de ter problemas de cabeça, ela sempre cuidou bem das crianças. Nunca a vimos pedindo nada a ninguém e nem maltratando os filhos. Acredito que algo grave aconteceu para que ela abandonasse essa menina”, contou uma moradora.
Com roupas e pernas ensanguentadas, em decorrência do parto, a mulher abandonou a criança e permaneceu no local, andando de um lado a outro, desorientada. Os vizinhos mais antigos contaram que a jovem passou vários momentos difíceis na vida, o que desencadeou sérios problemas psicológicos. “Ainda pequena, ela viu o pai matar a mãe. Depois dessa data, ficou variando das ideias, mas nada de muito grave. Com a morte do marido, ano passado, ela piorou de vez”, contou Rita de Cássia Assis.
A mãe da criança foi levado para a delegacia para prestar depoimento. O caso foi transferido da 6ª Delegacia, em Brotas, para a Delegacia de Repressão a Crimes contra Criança e Adolescente.
Fonte: Daniela Perreira e Mariacélia Vieira / Tribuna da Bahia