Hoje, minha mãe já não faz a longa caminhada para a igreja da Vitória no domingo. Fez isto por muitos anos. Está cansada. Fui ao dentista com ela, pois tinha caído uma obturação antiga, de mais de 8 anos, e aí pensei na que tínhamos feito há pouco, então o dentista disse: “Ela veio sozinha, resolveu todo”.
O tempo passou e diminuiu sua liberdade, como uma escuridão limitante, mas nos seus olhos se acende de vez em quando uma faísca de felicidade. E, se não é felicidade, é de alegria. O efêmero é a própria essência do viver e envelhecer mais ainda.O mundo é inocente, como o tempo, como uma manhã de sol tão agradável com o ar tão fresco neste domingo e tão belas as margens do caminho. Mas, à direção do caminho de nossa vida, é um apagar de luzes, o palco tem que ser preparado para os mais jovens.
O jeito é minha mãe ficar ali, dormir dentro das próprias mãos, sonhar com os dedos e as linhas da vida. Se alguém quisesse esperar por alguém, que o tempo esperasse por nós. Parasse. Que nos importava chegar um dia ou um ano depois? Havia amado o rosto dele, por sessenta anos, da mesma maneira que amava o brilho da lua e a água fria e azul do mar.