História de Porto Seguro: Inácio de Azevedo, um dos “40 mártires do Brasil”

Por Pedro Ivo Rodrigues

Desde quando me mudei para Porto Seguro, em 2006, me interessei cada vez mais pelos fatos históricos que aqui ocorreram em sua origem como povoação nos moldes europeus,

uma vez que os ameríndios viviam nesta região há tempos imemoriais, o que é comprovado por urnas funerárias indígenas encontradas do distrito de Trancoso ao município de Eunápolis, contendo restos mortais e datadas, através da técnica do carbono- 14, de pelo menos dois séculos (as mais recentes) antes da chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral, em 22 de abril de 1500.

Uma das histórias que me chamam a atenção é a da passagem do beato Inácio de Azevedo, um religioso nascido na cidade do Porto (Portugal) em 1526 e que, seguindo orientação de (São) Francisco de Borja, um jesuíta, veio para o Brasil em 1565, numa das três naus que zarparam de Lisboa com o objetivo de trazer para a colônia religiosos, militares e o governador geral do Brasil, Mem de Sá.

O religioso desenvolveu seus trabalhos catequéticos nos territórios dos atuais estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Bahia. Neste último, esteve em Porto Seguro e Ilhéus. Aqui, há registro de que viveu por algum tempo no Arraial d´Ajuda, no ano de 1568, lugarejo onde já existia uma ermida, algumas habitações e produção da cana-de-açúcar. Segundo relatos contemporâneos, entre os quais o do padre José de Anchieta, existiam na localidade cerca de seis ou sete clérigos nesse tempo, que “viviam de esmolas”, como também homens e mulheres portugueses, que “se vestem limpamente de todas as sedas, veludos, damascos, razes e mais panos finos como em Portugal e nisto se tratam com fausto, máxime as mulheres que vestem muitas sedas e jóias e creio que nisto levam vantagem, por não serem tão nobres”, descreveu Anchieta.

Não há registros precisos acerca das atividades de Inácio de Azevedo por Porto Seguro. Obviamente, se dedicou a conversão dos silvícolas a sua fé, posto que fosse esta a missão de todos os jesuítas que desembarcavam nas terras recém-descobertas pelos ibéricos no Novo Mundo. Sabe-se apenas que enviou correspondências a sua ordem pedindo mais recursos humanos, que deveriam ser recrutados em Portugal e Espanha.

Em 5 de julho de 1570, julgando concluída a sua obra no Brasil, embarcou com mais 39 companheiros para a Europa, no navio mercante Santiago, enquanto os outros 30 restantes viajavam em vasos de guerra, junto com o governador geral. Passando pelas Ilhas Canárias, a sua embarcação, que se distanciou das demais, foi abordada por piratas franceses, huguenotes, comandados por Jacques Sorià. Em plena época de conflitos religiosos que incendiavam o velho continente, os piratas decidiram massacrar os jesuítas por “pregar a falsa religião”. Todos foram mortos de modo bárbaro, sendo decapitados, perfurados com lanças ou tendo os crânios esmagados com golpes de porrete ou coronha de arcabuz. Diz-se que Inácio de Azevedo teria dito aos seus irmãos de igreja: “Não temais, pois hoje nos encontraremos todos no céu”. Mesmo havendo armas no navio, os jesuítas teriam se recusado a defender-se, preferindo orar com seus terços, resignados por serem martirizados por sua crença. Após a matança, os cadáveres foram lançados no mar.

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