“Com ele crucificaram dois ladrões, um à sua direita e outro à sua esquerda, e cumpriu-se a Escritura que diz: ‘Ele foi contado entre os transgressores’.” (Marcos 15.27-28)
Certa vez perguntaram a El Greco, pintor, escultor e arquiteto grego, radicado na Espanha, a razão de haver escolhido pacientes de um manicômio como modelos para pintar a obra “Santa Ceia”, em que retrata Jesus com Seus discípulos. Ele então respondeu: que modelos melhores para representar aqueles que viam o que ninguém via?! Jesus foi crucificado entre dois ladrões. Que companhia melhor para representar aqueles entre os quais Jesus viveu e estava morrendo? Ele foi crucificado entre malfeitores, como se fosse um, pois estava morrendo em lugar de todos. E, incrivelmente, a atitude dos ladrões exemplifica claramente as atitudes que dividem a humanidade em relação a Jesus.
Aqueles dois ladrões, unidos na culpa e na sentença, dividem-se na fé. Dividem-se também na atitude diante da vida. Um deseja a chance de continuar sendo ele mesmo, quer livrar-se da cruz. Quer que Jesus, se é que pode, lhe dê provas mudando aquela situação. Se não pode fazer isso, para que ele serve então? Para muitos, Deus precisa provar que é útil para ser crível. E a fé dura até que haja benefícios. Ser cristão implica em outras atitudes. O outro ladrão deseja uma chance de ser redimido. Ele reconhece a própria culpa e sabe que merece o que está recebendo. Seu problema não é a cruz, é ele mesmo. Ele precisa de ajuda, não para livrar-se da cruz, mas da culpa, da vida equivocada. Ele suplica misericórdia e em sua fragilidade, crê.
Este ladrão é um bom representante para o cristão. O cristão é alguém que sabe do que é feito, não ignora e nem nega sua fraqueza. Mas é alguém que está aprendendo a viver da misericórdia do Filho de Deus. Não se vê superior a outros, sejam quem forem, mas está conseguindo viver de maneira nova, abandonando pecados e amando seu semelhante. Isso não o deixa orgulhoso, apenas agradecido. Ainda enfrenta angústias e coisas difíceis lhe sobrevêm, mas ele sabe que já recebeu bens além do que merecia – afinal, foi resgatado da morte espiritual. Religiosos não são assim. Mas cristãos são! E o Reino de Deus se manifesta por meio deles.