Guarda-chuva

Guarda-chuva

Não se tem nenhum registro histórico que comprove com exatidão quem foi o inventor do guarda-chuva. Porém, é sabido que o acessório surgiu na China por volta do ano XI a.C. Percebe-se, portanto, que se trata de um invento bastante antigo e que há muitos séculos está presente em nossa sociedade.

Já tive vários guarda-chuvas, mas acabei me cansando de tê-los e perdê-los, há anos vivo sem nenhum desses abrigos. Tenho apanhado muita chuva, dado muita corrida, me plantado debaixo de muita marquise, mas resistido. Com tanta chuva nestes meses, terminei comprando um. Senti então uma certa simpatia por ele, meu velho rancor contra os guarda-chuvas cedeu lugar a um estranho carinho, e eu mesmo fiquei curioso de saber qual a origem do carinho. Pensando bem, ele talvez derive do fato, creio que já notado por outras pessoas, de ser o guarda-chuva o objeto do mundo moderno mais difícil de mudar.

Sou um homem de sessenta e cinco anos, e praticamente nenhum objeto da minha infância existe mais na forma primitiva. De máquinas como telefone, automóvel, etc. Nem é bom falar. Mil pequenos objetos de uso mudaram de forma, de cor, de material; em alguns casos, é verdade, para melhor; mas mudaram. O guarda-chuva tem resistido. Ele permaneceu austero, negro, com seu cabo e suas invariáveis varetas. De pinho, de seda, animal, pobre ou rico, ele se tem mantido digno. Reparem que é um dos engenhos mais curiosos que o homem já inventou; tem, ao mesmo tempo, algo de ridículo e algo de fúnebre, essa pequena barraca ambulante. Já na minha infância, era um objeto de ares antiquados, que parecia vindo de épocas remotas, e uma de suas características era ser muito usado em enterros.

Por outro lado, esse grande acompanhador de defuntos sempre teve, apesar de seu feitio grave, o costume leviano de se perder, de sumir, de mudar de dono. Ali está ele, meio aberto, ainda molhado, choroso, descansa com uma espécie de humildade ou paciência humana. Meu pai e meu avô não saiam sem ela. Há um certo conforto íntimo em seguir um hábito paterno; uma certa segurança. A gente nova despreza o guarda-chuva. Paciência. Não sou mais gente nova.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui