Passei alguns dias em Guarajuba onde alugamos uma casa, quando cheguei, senti o clima de verão e alegria, mas não imagina que seria uma fase bela de minha vida. Fase provisória, etapa passageira. E agora ali estava, entre a Praia do Forte e a barraca de prefeitinho. Desde pequeno gostava do som dos pássaros pela manhã, conseguia ficar um tempão em casa ou no quintal deitado na quentura do cimento áspero, flutuando no chão duro, com o olhar enterrado no alto entre a maciez das nuvens, embevecido.
Era como se todos os ruídos da vizinhança sumissem. Ficava mergulhado num mundo de silêncio particular. Só quebrado por algum barulho de panela brotando da cozinha. Eu sempre gostava de perder o olhar no azul, ver as nuvens que passavam. Formas que desafiavam ideias ou despertavam imagens, urso polar, rebanho de carneirinhos, torre de castelo ameaçador. Mas gostava ainda mais quando havia pássaros, só carregados de vento, até ficarem cada vez menores, pontos diminuindo no alto do céu. Agora aqui em Guarajuba, na varanda com rede, e em uma mesa rústica, ouço os pássaros, que delícia, vários deles cortando o céu.