Os bancários de toda a Bahia entraram em greve no dia 19 de setembro, em campanha salarial buscando melhores salários e melhores condições de trabalho. Os bancários reivindicam, entre outras coisas, reajuste de 11,93% (5% de lucro real acima da inflação), participação nos Lucros e Resultados e piso salarial de R$ 2.860,00, que é o salário mínimo projeto pelo DIEESE. A contrapartida dos Bancos é de pouco mais de 6%, considerada insuficiente pelos bancários. Segundo o Sindicato dos Bancários do Extremo Sul, 45 agências estão fechadas na região. Para o Sindicato, esse número representa mais de 86% de bancários envolvidos na paralisação. A direção do Sindicato pede a compreensão da população para o movimento e avisa que vai procurar causar o menor transtorno possível para os usuários das agências. Um exemplo é a continuação do funcionamento dos caixas automáticos, o que permitirá à população fazer as transações básicas do dia a dia. Na tarde do dia 20, por volta das 15 horas, a agência do HSBC estava com apenas um caixa eletrônico funcionando, o que já começava a causar filas mais compridas no local.
O diretor coordenador geral do Sindicato, Carlos Eduardo Coimbra, considera bastante satisfatório o resultado da paralisação em seu primeiro dia e sinaliza que a greve ganhará força, em virtude do aumento da mobilização nas demais agências bancárias. Conforme o balanço, nas cidades de Teixeira de Freitas, Itamaraju, Eunápolis e Porto Seguro, que fazem parte da base do Sindicato, a paralisação foi mais acentuada, atingindo quase todas as agências bancárias.
A avaliação do coordenador do Sindicato é que a greve vai entrar para a próxima semana e continuará crescendo em todo o país, pois os banqueiros mantém a intransigência e não sinalizaram retorno das negociações até o momento.
O Sindicato divulgou para a imprensa a relação das agências que aderiram à paralisação
Banco do Brasil (12 agências): Arraial D’Ajuda (Porto Seguro), Belmonte, Eunápolis, Guaratinga, Itabela, Itamaraju, Itanhém, Medeiros Neto, Mucuri, Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália e Teixeira de Freitas;
Bradesco (10 agências): Caravelas, Eunápolis, Itabela, Itamaraju, Medeiros Neto, Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália e Teixeira de Freitas (2 agências) e Trancoso (Porto Seguro);
Caixa Econômica Federal (11 agências): Belmonte, Eunápolis (2 agências), Itabatan (Mucuri), Itabela, Itamaraju, Porto Seguro, Posto da Mata (Nova Viçosa), Santa Cruz Cabrália e Teixeira de Freitas (2 agências);
Banco do Nordeste do Brasil (5 agências): Eunápolis, Itamaraju, Medeiros Neto, Porto Seguro e Teixeira de Freitas;
HSBC (3 agências): Eunápolis, Porto Seguro e Teixeira de Freitas;
Itaú (3 agências): Eunápolis, Porto Seguro e Teixeira de Freitas (1 agência);
Banestes (1 agência): Teixeira de Freitas.
Confira entrevista exclusiva que o sindicalista Gideraldo concedeu ao jornal O Sollo
O Sollo: Qual a maior motivação dessa greve?
Gideraldo: Essa greve é consequência da forma com que os banqueiros estão tratando os funcionários. Em 31 de junho entregamos as nossas reinvindicações, que continham as cláusulas econômicas e as cláusulas sociais. Os Bancos, depois de várias tentativas de negociação, afirmavam que iam estudar, e apenas apresentaram uma proposta no dia 5 de setembro. Proposta essa que falava em um aumento de 6,1%, abaixo da inflação dos 12 meses passados, de 6,93%, o que inviabilizava a negociação das cláusulas econômicas. Além disso, também rejeitaram as cláusulas sociais, como a de contratação de mais funcionários e outras. Por conta dessa atitude de descaso dos banqueiros, os bancários, em assembleia nacional no dia 12, resolveram parar a partir da zero hora do dia 19, por tempo indeterminado, até que os banqueiros apresentem propostas que contemplem as necessidades da classe.
O Sollo: A greve é boa para os banqueiros? Os bancos tomam prejuízo nesse período de paralisação?
Gideraldo: Não. O único prejuízo que eles podem tomar é quando a população começa a olhar para eles com hostilidade, culpando-os pela greve. Para que se tenha uma ideia, os bancos privados têm, nos últimos anos, comemorado o alcance de suas metas já no período da greve. Isso acontece porque eles, ao invés de atenderem os clientes na agência, pegam seus funcionários e mandam para a rua para vender produtos que o banco oferece. A realidade é que o custo da greve para eles é barato. A coisa só pega quando a população começa a cobrar uma solução, quando o governo, o Ministério do Trabalho, a procuradoria começam a pressionar por uma solução é que eles se mexem. Enquanto a população está xingando os bancários, eles não se incomodam, pois não ligam para os funcionários. Quando a população começa a cobrar deles, banqueiros, aí eles se incomodam, pois se trata de clientes e a insatisfação desses pode afetar os negócios.
O Sollo: Quais são os itens essenciais da pauta apresentada pelos bancários que, atendidos pelos banqueiros, poderiam interromper a greve?
Gideraldo: O item primeiro é o financeiro, pois a vida do bancário depende disso. Na sequência vêm as questões sociais: previdência, plano de saúde, melhores condições de trabalho, o fim do assédio moral que está demais, com pressões sobre o cliente para que ele compre coisas de que não precisa. Também lutamos pela contratação de mais funcionários, pois os bancos estão enxugando. Um exemplo dessa política nefasta acontece com o Itaú, que foi o banco que mais lucrou o ano passado e esse ano está demitindo, forçando seus funcionários remanescentes a trabalhar mais e atender pior a seus clientes. Os bancos hoje estão fomentando a terceirização, que são as lotéricas, farmácias e agentes para realizar seus serviços, expondo os clientes a riscos. A realidade é essa: os bancos hoje querem expulsar os clientes de dentro das agências, pois os clientes nas agências exigem funcionários para o atendimento, enquanto que fora da agência eles empurram os funcionários para impor aos clientes seus produtos, tudo com menor custo operacional. Além disso, temos os funcionários trabalhando mais, a insegurança, com sequestros de gerentes e tesoureiros, pessoas de famílias pobres que vivem nas mãos das quadrilhas, guardando para o futuro sequelas psicológicas e por aí vai. Para que se tenha uma ideia, quando tínhamos instrumentos de digitação mais arcaicos, o funcionário sofria mais de problemas musculares. Hoje, uma pesquisa mostrou que 40% dos bancários tomam remédios de tarja preta, fortíssimos, por força das pressões psicológicas que sofrem no dia a dia do seu trabalho bancário. Aqui em Teixeira, fizemos uma reunião com funcionários de uma agência privada e foi constatado que 50% tomavam desses remédios. Por aí podemos ter a noção de como é a vida de um bancário hoje.
O Sollo: Vocês tem ideia de qual é o lucro de um banco estatal e de um banco privado?
Gideraldo: É o setor que mais lucra nesse país. Nenhuma atividade produtiva chega próximo à lucratividade de um banco, de um agente do setor financeiro. No ano passado, um banco privado chegou ao lucro de 7 bilhões ao ano. Esse ano, já atingiu essa sifra na metade do ano. O Banco do Brasil, para falar dos estatais, hoje disputa com os dois maiores bancos privados, com Bradesco e o Itaú e quer ter a lucratividade deles. A Caixa Econômica Federal, mesmo sendo um banco estatal e mesmo não podendo ter prejuízos, tem a meta de, em 2022, estar entre os 3 maiores bancos do país. Mais: até esse ano, já cumpriu 70% dessa meta, mesmo sendo um banco eminentemente social.