O Brasil, já disse o poeta, “é rico e bonito por natureza”, característica consequente à sua localização privilegiada no Hemisfério Sul, na faixa geográfica tropical por excelência. È, portanto, uma dádiva do Criador, mas o que afirmar-se dos seus habitantes, seus avanços sociais frente à educação?
A grande-mãe natureza foi dadivosa com a Terra de Pindorama e os portugueses, ao chegarem aqui, se entusiasmaram, confirmando: o esplendor das matas, a qualidade das águas, a amenidade do clima e, numa apaixonada declaração de amante incontido, nas palavras do escrivão da frota lusitana, “a terra é por tudo dadivosa e nela em se plantando tudo dá!”.
Após quinhentos anos de ações predatórias, destruição de recursos naturais, morte ou expulsão dos donos da terra- brasilis, o que mudou, ou será “tudo dantes no quartel de Abrantes”; seja ao norte, sul, leste e oeste deste País “gigante pela própria natureza… deitado eternamente em berço esplêndido…. ao som do mar e à luz do céu profundo….Pátria amada, Brasil”. 0u não é isto que, corriqueiramente, se fala, se assiste ou se vê?
Os poetas, ao se defrontarem com obstáculos à expressão da própria verve, usam de licenças e continuam, assim, na caminhada a construir o belo, interpretando o mundo à sua maneira, promovendo o gozo, a tristeza, trazendo o riso, a lágrima e, por vezes, reescrevendo a saudade!
Aquele que não é poeta – portanto sem a providencial licença – se sujeita ao crivo popular, de forma indistinta, submetido a “ventos e tempestades” se tiver como propósito estabelecer diferenças, justificar os porquês, ou tentar um mínimo de explicações sobre temas tipo shopping, balada, barzinho e educação, num contexto tão complexo quanto o social brasileiro, na expectativa de compreender a juventude, a família e sua formação.
Há apenas alguns anos, e aí o contexto existencial será o século vinte, a preocupação da família, naturalmente, eram os filhos e a sua educação para o amanhã. Viviam-se os momento pós coca-cola, rock’n’roll, beatles, bossa nova, “o milagre brasileiro”,com o “boom” da economia crescente ,ao longo dos anos de chumbo, pós 64 e até 85.
À época, as dificuldades de acesso ao ensino eram bem mais expressivas, seja na quantidade ou qualidade das escolas, opções nem sempre próximas dos interessados em quaisquer dos níveis fundamental, médio ou superior. Ocorria mais demanda do que oferta em todas as Unidades Federativas do País, mesmo para os contingentes dos privilegiados economicamente, em face o histórico nacional de uma época remontante a menos de trinta anos.
Afirma-se que este é o momento da geração shopping, balada e barzinho, produtos largamente comentados e consumidos nos dias atuais, vez que fazem parte dos “avanços sociais”. Será avanço ou apenas modismo? E os valores culturais, a moralidade e a ética, que impregnam historicamente os contextos sociais de nações que alcançaram qualidade de vida, estão preservados?
Em principio, nada contra o lazer e o lúdico, é preciso vivê-los para não se lamentar na velhice, por não tê-los gozado! Mas, até onde e quando esse desfrute deixa de ser salutar e compromete o futuro; quais os limites da juventude e o papel da família? Ainda mais, em que dimensão se aceitam e, a partir de quando, se contestam tais realidades – no viés da formação escolar/acadêmica para a vida cidadã?.
A educação é a transformação idealizada, por séculos de experiências, erros e acertos, que visa o hominem augere de tal forma que o educando – diamante bruto, possa ser formalmente elevado à condição de diamante lapidado – sendo paulatinamente integrado à desejável convivência social, reconstruindo-a preferencialmente qualificada, além de legá-la como herança, social e cultural, para os seus sucessores.
Torna-se necessário certo esforço intelectual para se aferir, na dificuldade de demonstrar, a relação existente entre shopping, balada, barzinho e educação, no interesse da formação escolar e na presença/ausência familiar. Permanece, assim, como espaço amplo à disposição dos sociólogos e pesquisadores sociais que desejarem análises aprofundadas.
Mesmo assim, que tal recorrer a tal licença poética, questionando-se a um grupo de jovens da atualidade e àqueles que também o foram há trinta anos para formularem suas opiniões, ao interpretar o contexto social vivenciado ? Com certeza, a geração pós coca-cola, bossa nova e rock o’n´roll responderá que ocupava mais o seu tempo no aprendizado formal – até pelas poucas ofertas existentes de lazer- e que o mundo das drogas era, relativamente, inexpressivo. É fato histórico e não há como negá-lo; havia bem menos marginalidade, violência, com seus reflexos na paz social existente.
E o jovem do hoje, o que pensa do amanhã? Sua formação? Seus valores éticos e morais? Sua relação com o mundo? E a família, sua cumplicidade e o dever com o educando?
A visão do educador seja por formação intelectual ou idealização na perspectiva de uma sociedade mais justa, por e para todos, não é diferente daquela dos jovens e seus pais de hoje, afinal todos são passiveis de cometerem equívocos, sejam os do passado ou os do presente. Talvez, aqui, seja o momento de trazer o pensamento de Paulo Freire, inspirado pensador e educador ao afirmar: “Onde quer que haja mulheres e homens, há sempre o que fazer, há sempre o que ensinar, há sempre o que aprender”. O importante é refletir que sempre existe a possibilidade de um recomeço e, assim, construir-se um novo amanhã pelo melhor caminho que, até prova em contrário, ainda é o da educação acumpliciada pela família e participada pela sociedade.