“Eles não são do mundo, como eu também não sou.” (João 17.16)
Como compreendemos essas palavras de Jesus? Elas são parte de Sua oração pelos discípulos e por nós. São parte da Oração Sacerdotal registrada por João (capítulo 17 de seu Evangelho), em que Jesus ora, não só por aqueles que com Ele estavam, mas pelos que viriam a crer (v.20). O que significa essa afirmação de Jesus: “eles não são do mundo”? Creio que o que Jesus tinha em mente ao fazer essa afirmação era que, aqueles que o seguissem, deixariam de seguir o mundo. Mas, seguir em que sentido? Seus seguidores necessariamente precisam romper com o fluxo de vida do mundo, com o modo como a vida é vivida no mundo. Um não pertencimento posicional, baseado em atitudes, valores e escolhas. Em outras palavras, aqueles que são discípulos de Jesus tornam-se integrantes do Reino de Deus, chamados para viver sob seus valores e princípios. É neste sentido que não somos deste mundo como Jesus não era. Nosso desafio é, em meio a este mundo, rodeados por ele e inegavelmente podendo ser influenciados por ele, fazermos outra opção. Jesus foi chamado de comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores (Mt 11.19). Isso mostra o quanto Ele era do mundo, sem que fosse do mundo!
O mundo ainda nos interessa e deve nos interessar, pois nos afeta. Estamos sujeitos às doenças e males deste mundo e não preciso me alongar nisso para comprovar, especialmente neste momento que vivemos. Mas não apenas isso. Não ser do mundo é uma missão que só pode ser cumprida por quem for do mundo. Por quem se interessar e aprender a se relacionar com o mundo. Por quem sabiamente for parte do mundo para o bem do mundo. O não pertencimento de que fala Jesus é, na verdade, um tipo novo de pertencimento, que resulta em serviço para o bem do mundo. É, em ultima análise, interesse, e não desinteresse! Ao vivermos no mundo (reino dos homens), participando do mundo, mas como pessoas que não são do mundo (porque somos parte do Reino de Deus), podemos influenciar o mundo para que nele se faça a vontade de Deus. Para que todos saibam que Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho, para salvação do mundo (Jo 3.16). Aqueles que não são do mundo estão no mundo para testemunhar que Deus não deseja condenar o mundo, mas salvá-lo.
Infelizmente nem todo cristão e nem toda igreja lê dessa forma essas palavras de Jesus. Muitos consideram-se diferentes por causa do que vestem, do que bebem ou não, dos lugares que frequentam, das musicas que ouvem ou não ouvem. Mas ficam apenas nisso e acabam como uma versão religiosa do que existe de pior no mundo: egoísmo, presunção, desamor e hipocrisia. Repetem o padrão do mundo no modo como tratam pessoas, mas pensam não ser do mundo. Nessas condições, deixam de ser a boa influência que deveriam ser e tornam-se participantes exatamente do que deveriam combater. Sabem ser religiosos, mas não sabem ser ativistas dos valores eternos, sinais do Reino de Deus. E você, como está em meio a tudo isso? Convido-lhe a se reconhecer como parte dos que, por causa de Jesus, deixaram de ser do mundo, mas do jeito de Jesus e não do jeito criado pela religião. Convido-lhe a aprender a viver como gente do Reino, aprofundando sua compreensão e prática sobre o amor que devemos a Deus e às pessoas. Um amor que nos faz servos, em imitação a Cristo. Não ser do mundo é uma vocação. E quem a vive, torna-se uma benção para o mundo!