” É fácil viver com os olhos fechados, entendendo errado tudo o que você vê ” – John Lennon
Me vejo em todos de uma forma minha, mas ninguém me vê assim. Assim compreendo que todos estão na ficção mas sem consciência. Não podem enxergar a realidade porque há uma parede de nevoeiro entre os espelhos. Uma parede construída pela interpretação dos fatos. A ficção dos seres humanos em relação a realidade.
Imagine uma pessoa que está doente, e enquanto puder, ela quer manter assim. Quer que a conheçam, primeiro como uma pessoa, não como uma doente de câncer, então você vive uma ficção, pois não sabe a verdade, e se ela morrer e você nunca souber que teve este câncer você viverá sempre na ficção. Vivemos numa ficção. O filósofo Wittgenstein, “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”.
Ah, bem sei, estamos vivendo tempos inquietos com pandemia, de vacina, confinamento, máscara etc. E da guerra na Ucrânia e não faz mal que soprem ventos inquietantes, para entender tanta ficção, pois como a doente que esconde sua doença a compressão do mundo real se esconde de nós pois se altera sempre em cada mente pensante.
Quando vou a academia, tem uma TV na frente da esteira, e vejo análises e interpretações da realidade de todo tipo, eleição, coronavírus, economia e financeiras. Queiramos ou não nossas vidas giram em torno de interpretar a realidade, lendo um livro, assistindo uma aula, conversando com amigos. Existe sempre uma nova linha de raciocínio apresentada a você e na sua cabeça se forma um novo cenário. Uma confusa sensação de que o real tem vários formatos, existe o formato da terra plana, da anti-vacina, do radicalismo de direita e esquerda, as formas de interpretar a fé.
Para mim, por fim amanheceu. As frestas da persiana foram iluminadas pela claridade do novo dia. Tenho uma sensação reconfortante, meio como se tivesse encontrado um dia como um quadro negro em branco, esperando para ser interpretado e vivido. Como toda manhã, os sons do tráfego se apoderam do ar, nas calçadas pedestres transitam. Volto a ficar sério. Passo para outra página mental.