Felizes por crer

O Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, tendo dado graças, partiu-o” (1 Coríntios 13.23-24)

Ninguém jamais entenderá completamente aquela noite e os dias que se seguiram. Já lemos a narrativa tantas vezes! Até nos acostumamos a ela, ao ponto de nem pensar muito ao lê-la. Perdemos a sensibilidade, a perspectiva, a profundidade. Na noite em que foi traído Jesus tomou o pão e, tendo dado graças, partiu-o. Quem poderia entender o que se passava? Quem poderia seguir com Ele adiante? Quem poderia apoia-lo? Ninguém. Jesus conheceu a solidão como jamais a conheceremos. A traição era apenas um detalhe. Mas Ele, em meio a tudo, deu graças, partiu o pão e o repartiu. E os discípulos receberam aquele pão como tantas vezes haviam  recebido do Mestre o pão, vindo da mesa ou de um milagre! Vendo os discípulos recebe-lo, sem se darem conta de coisa alguma, Jesus fez do pão não discernido o símbolo do seu corpo. “Isto é o meu corpo que é dado em favor de vocês”. Eles não entenderam nada. Mas, não seria a primeira vez. Eles se repetiam em não entender Jesus. E quem disse que nós entendemos?!

Ser grato, partir e repartir quando se está a caminho do martírio, da traição e do abandono, é coisa para Deus e não para homens! Receber e beneficiar-se, e depois trair, é coisa de homens. Judas inaugurou a fila, mas não foi o único. Sua traição é a mais famosa, foi profetizada, mas todos os discípulos, cada um a seu modo, também o traíram. Pedro teve a sua chance e protagonizou uma traição em três atos. O Mestre havia avisado, mas ele não entendeu. E nem acreditou! Ele confiou em seu coração. Bem que Jeremias disse: enganoso e perverso é o coração humano! (Jr 17.9) Nosso coração inspira as mais lindas palavras de compromisso e depois nos seduz, com um poder incrível, para trair o compromisso que nos levou a fazer. Quem não tiver jamais traído a Jesus, atire a primeira pedra. Aqueles dias que se seguiram ao pão partido jamais será compreendido. Que Jesus é esse? Que Deus é esse? Na linguagem de Étienne Babut, o Deus Poderosamente Fraco. Que se deixa ferir. E foram muitas as feridas. Na alma e no corpo! Na linguagem do profeta Zacarias, se perguntado sobre elas, Jesus responderia: “São feridas com que fui ferido, na casa de amigos meus” (Zc 13.6).

Quanta dor para Ele e quanta paz para nós. Quanta chaga para Ele e quanta cura para nós! Como declarou Isaías, “o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados” (Is 53.5). O Pastor que nos livra do medo quando estamos no vale da sombra e morte, andou, Ele próprio, pelo vale e o fez sozinho! Mas em meio ao fluxo confuso das noites e dias, havia o domingo. Ele havia avisado que venceria a morte, mas quem compreendeu a sua pregação? (Is 53.1) E lá estava o túmulo vazio. Nunca um lugar vazio foi razão de tantos corações cheios. Espanto, alegria, fé renovada… esperança! E ainda viria poder, ao descer sobre os discípulos o Espírito Santo (At 1.8). E nesse poder a notícia se espalhou: o Redentor vive! Não precisamos mais morrer em nossos pecados ou nos perder em nossos caminhos. Seus braços continuam abertos. Não mais nunca cruz, mas na porta de Casa. Esperando os filhos rebeldes que voltam arrependidos. E aqui estamos nós: tantos séculos depois! Ainda sem compreender, mas felizes, muito felizes. Felizes por crer! Como é bom crer, mesmo sem compreender, nisso que Jesus fez por nós. A Ele louvor e glória, hoje e sempre, por todos os dias. Compreendendo ou não, sigamos crendo. Ele ressuscitou. E voltará!

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