“Como é feliz aquele cujo auxílio é o Deus de Jacó, cuja esperança está no Senhor, no seu Deus” (Salmos 146.5)
Segundo Carlos Drummond de Andrade, há duas épocas na vida, a infância e a velhice, em que, para se sentir feliz, basta uma caixa de bombons. Quanto à infância, acredito que é bem assim mesmo. Quanto à velhice, tenho minhas dúvidas que espero poder sanar um dia. Mas, ainda que possamos considerar completamente correto o que expressou o poeta, uma questão surge: nem sempre temos a caixa de bombons que nos faria felizes! Aí talvez seja proveitoso considerar o que pensava Arthur Schopenhauer, para quem a felicidade dependia mais do que havia na cabeça, do que nas mãos.
Aprendo com o poeta brasileiro o valor da simplicidade e com o filósofo alemão a importância de minhas crenças. Mas creio que com ambos não tenho o que preciso, o que me bastaria para ser feliz. O salmista me remete a Deus. Para ele, a felicidade depende de aprendermos a contar com Deus, de não depender, para ser feliz, do que temos nas mãos e nem das perspectivas que a vida ajudou a formar. Mas de buscar em Deus o auxílio e colocar sobre Ele a esperança.
Para alguns isso parece fuga, mas não é e está longe de ser. Deus pode cuidar plenamente tanto de nossas mãos como de nossas mentes, mas é Sua presença em nossa vida, a experiência de aprender a viver esperando nele e por Ele, que nos torna felizes. Por isso é que a fé cristã não é um caminho para obtenção de bênçãos, mas um caminho na direção de Deus. E a evidência dessa fé é uma misteriosa felicidade que nos surpreende, apesar das mãos e dos pensamentos. A felicidade de poder dizer, olhando firmemente a mais dura realidade imposta pela vida: “eu sei em quem tenho crido” (2Tm 1.12).