Fé relacional

“Quanto ao mais, tenham todos o mesmo modo de pensar, sejam compassivos, amem-se fraternalmente, sejam misericordiosos e humildes.” (1 Pedro 3.8)

Nossa fé é relacional. Fizemos dela algo tão institucional e ritualizado que nos esquecemos de seu caráter fundamentalmente relacional. Ser uma fé relacional significa que o centro está no relacionamento com Deus e com as pessoas. Que nossos ritos e demais artefatos devem submeter-se a isso e não tornarem-se o centro de tudo. Somente assim é que a graça pode operar entre nós gerando vida. Na perspectiva do Reino, relacionamentos fazem parte do vinho e nossos ritos são parte dos odres. É a dinâmica dos odres e do vinho ensinada por Jesus (Lc 5.37-38). Mas o que fizemos foi sacralizar as coisas. O dia, o lugar, a função, a agenda e a liturgia assumiram o palco. O que fizemos foi criar, a partir de nossa mente apegada a regras, uma maneira de dicotomizar a vida. Seguindo o padrão religioso judaico, classificamos a vida em seus diversos aspectos, julgando o que seria puro e o que seria impuro. E as pessoas, dependendo de como se relacionam com o puro e o impuro. Tudo isso passou a parecer a nós muito cristão e santo, mas não é.

Um dos resultados é que nossa consagração passou a ser um obstáculo para nos relacionarmos. Saber ouvir, dialogar, considerar, avaliar, servir, cuidar deixou de nos caracterizar. Passamos a nos ocupar de estar certos, estar puros em lugar de aprender a amar. Nossa santidade nos endureceu. Passamos a considera radicalismo como sinônimo de firmeza na fé, esquecidos de que firmeza na fé tem a ver mesmo é com mansidão e equilíbrio. Cantamos sobre compaixão, mas não nos compadecemos, pois na ótica de nossas regras, seria o mesmo que ser conivente. Quem nos ensinou isso?! Não foi o Evangelho, que anuncia-nos o Pai das misericórdias e Deus de toda consolação! (2 Co 1.3) Sem saber amar, especializamo-nos em julgar! Nossa misericórdia é pouca demais e por isso é para poucos. É especialmente para aqueles que a merecem. Que contra-senso! Falta-nos humildade. Tudo isso são marcas de uma fé que se redefiniu, deixando de lado a simplicidade e profundidade propostas pelo amor. Que preferiu o controle à liberdade. Que despreza a graça sob o pretexto de valoriza-la.

É tempo de avaliarmos quem somos de fato, como são nossas famílias, nossos casamentos, o tipo de amizade que temos e o tipo de igrejas que formamos. É hora de nos olharmos no espelho por tempo bastante para reconhecer que estamos usando máscaras. Tem faltado beleza entre nós. Tem faltado leveza também. Tem faltado graça e amor. Pedro fala nesta carta que os cristãos precisam estar prontos para responder a todo que lhes perguntarem sobre a esperança que move suas vidas (1 Pd 3.15). Mas as pessoas de modo geral não querem saber nossa opinião e muito menos nossas razões. Onde está em nós a beleza de Cristo? Tornamo-nos seres humanos feios pela falta de amor, e achamos isso bonito! Religiosamente sofisticados e espiritualmente pobres. Precisamos perder o medo de amar e ser amados. Precisamos aprender a ser livres. Precisamos definitivamente redescobrir a nossa fé pelo caminho do relacionamento. Pois se não amamos as pessoas, que vemos, como podemos dizer que amamos a Deus, a quem não vemos? (1 Jo 4.20)

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