Ranking de saneamento mostra que o problema não é exceção e atinge diversas capitais
Na cidade de Eunápolis, no extremo sul da Bahia, apenas um em cada cinco moradores tem esgoto em casa. A maior parte da cidade está sobre fossas, milhares delas. Eunápolis não é uma cidade pequena. Tem 113 mil habitantes.
Já é assombroso que em 2015 existam no país cidades desse porte quase sem coleta de esgoto. Mais assombroso ainda é que, por causa da crise, os moradores continuarão vivendo nessa situação por muito mais tempo. Embora o Ministério Público tenha exigido a construção de uma tubulação de esgoto e a Embasa (companhia de saneamento da Bahia) tenha prometido que iniciaria a obra no ano passado, nada foi feito até agora. Com a crise, não há nem sequer uma previsão para que os trabalhos comecem.
Eunápolis está longe de ser exceção. Um levantamento de 2013 do Instituto Trata Brasil em parceria com a Fundação Getúlio Vargas analisou dados de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto e investimentos para criar um ranking, considerando apenas as cem cidades brasileiras com maior população. Das dez piores colocadas, quatro são capitais: Porto Velho (a pior no quadro geral), Macapá, Belém e Manaus. Já entre as dez melhores há apenas uma capital: Curitiba. São Paulo aparece em 34º e Rio de Janeiro em 56º lugar.
O rombo de 30 bilhões de reais no orçamento da União, mais o corte de 26 bilhões de reais nas despesas federais e os planos do governo de ressuscitar a CPMF criaram um cenário sombrio para os municípios que precisam de investimento, mesmo que os mais básicos. No Brasil, metade das cidades não tem saneamento e apenas 34% tratam o próprio esgoto. O governo federal se comprometeu com a meta de que, até 2033, todos os brasileiros tenham coleta de esgoto em casa. Mas, ao que tudo indica, o suplício ainda vai perdurar bem mais.
Diz o senso comum que saneamento básico não dá voto. A falta dele, porém, traz tantos prejuízos que o assunto merecia ser olhado com mais atenção pelos governantes, especialmente num cenário de crise econômica. Segundo levantamento do Instituto Trata Brasil, o país perde a cada ano 547 milhões de reais em remunerações de horas não-trabalhadas de funcionários que adoeceram por causa de infecções gastrintestinais. O acesso universal ao saneamento representaria a redução de 25% no número de internações e de 65% na mortalidade desses pacientes. Por ano, 1.277 mortes seriam evitadas.
A produtividade aumentaria 13%, permitindo aumento da renda familiar e maior capacidade de consumo, o que contribuiria para o aquecimento da economia. Haveria ainda importantes reflexos no mercado imobiliário. Quando uma cidade é totalmente coberta pela rede de esgoto seus imóveis se valorizam, em média, 18%. Num momento de desaceleração nas transações de imóveis, congelar investimentos em saneamento só agrava e prolonga o problema.
Confira as melhores e as piores do ranking do levantamento, que considerou apenas as cem cidades brasileiras maior população:
As melhores
1) Franca (SP)
2) Maringá (PR)
3) Limeira (SP)
4) Londrina (PR)
5) Curitiba (PR)
6) Niterói (RJ)
7) Santos (SP)
8) Ponta Grossa (PR)
9) Uberlândia (MG)
10) Taubaté (SP)
11) Cascavel (PR)
12) Jundiaí (SP)
13) São José do Rio Preto (SP)
14) Vitória da Conquista (BA)
15) Ribeirão Preto (SP)
16) Contagem (MG)
17) São José dos Campos (SP)
18) Montes Claros (MG)
19) Belo Horizonte (MG)
20) Uberaba (MG)
As piores
1) Porto Velho (RO)
2) Santarém (PA)
3) Ananindeua (PA)
4) Jaboatão dos Guararapes (PE)
5) Macapá (AP)
6) Várzea Grande (MT)
7) Gravataí (RS)
8) Belém (PA)
9) Manaus (AM)
10) São João de Meriti (RJ)
11) São Gonçalo (RJ)
12) Teresina (PI)
13) Duque de Caxias (RJ)
14) Nova Iguaçu (RJ)
15) Juazeiro do Norte (CE)
16) Aparecida de Goiânia (GO)
17) Rio Branco (AC)
18) Cariacica (ES)
19) Belford Roxo (RJ)
20) Olinda (PE)
Mariana Barros/Veja