Uma pesquisa da Rede CoVida, ligada à Fiocruz Bahia, aponta que o estado deve ter cerca de 4,7 mil casos confirmados de coronavírus no dia 4 de maio. Atualmente, segundo o boletim divulgado pela Secretaria de Saúde do estado (Sesab) no início da tarde desta quinta-feira (30), são 2.851 pessoas diagnosticadas com a doença. O número de óbitos, que hoje é de 104, poderá passar para 125, podendo atingir 187 óbitos.
Em Salvador, também se prevê uma duplicação do número de casos até o dia 4 de maio, quando o total acumulado pode superar os 2.500 pacientes diagnosticados com a doença. O número de mortes na capital baiana deverá chegar a 80, mas pode atingir 121 casos no cenário mais pessimista.
“No boletim apresentamos uma sessão em que se consegue ver um pequeno cenário sobre o afrouxamento das medidas de isolamento social para as pessoas assintomáticas, que são as pessoas que não apresentam sintomas”, explicou Juliane Oliveira, que é doutora em matemática, pesquisadora pós-doutoranda do Cidacs/Fiocruz Bahia e uma das coordenadoras do grupo de modelagem matemática da Rede CoVida.
Os boletins são produzidos semanalmente desde o início de abril. A última versão leva em conta os números obtidos até o último dia 26, e está disponível on-line e aponta outras projeções.
Segundo a publicação, em caso de relaxamento das medidas restritivas contra a Covid-19, em benefício de pessoas assintomáticas, a Bahia teria um aumento de 50% na taxa de transmissão deste grupo.
“A gente vê que, considerando esse cenário em que se possibilita o aumento da circulação de 50% dessas pessoas assintomáticas, poderia causar, em curta janela, um aumento de 75% na curva de casos, 23% de aumento no número de óbitos, 58% de aumento na necessidade de leitos clínicos e 68% nas necessidades de leitos de UTI”, disse.
Com relação aos leitos, o estudo da Rede CoVida também aponta um crescimento de quase 100% em menos de uma semana.
“Passaríamos de 177 leitos ocupados no dia 26 de abril para 316 leitos ocupados no dia 4 de maio, considerando o cenário. Num cenário considerado mais pessimista, serão necessários cerca de 474 leitos para atender as pessoas infectadas pelo Covid-19, no dia 4 de maio, no estado da Bahia”, aponta a publicação.
Conforme o boletim da Sesab, dos 785 leitos disponíveis do Sistema único de Saúde (SUS) exclusivos para Covid-19, 276 possuem pacientes internados, o que representa uma taxa de ocupação de 35%. No que se refere aos leitos de UTI adulto e pediátrico, dos 318 leitos exclusivos para o coronavírus, 137 possuem pacientes internados, compreendendo uma taxa de ocupação de 43%. Novos leitos deverão ser abertos nas próximas semanas.
Recomendações do estudo
- Manter as estratégias de distanciamento social, o uso de máscaras caseiras, a identificação por meio de testes e o isolamento dos indivíduos infectados são ações que continuam sendo essenciais para reduzir a velocidade de transmissão do vírus e evitar a sobrecarga dos serviços de saúde com consequente aumento no número de óbitos;
- Ampliar a capacidade de internação em Unidades de Tratamento Intensivo, disponibilizando leitos, equipamentos e profissionais de saúde em número suficiente para atender simultaneamente a cerca de três mil pessoas acometidas de Covid-19;
- Mobilizar e treinar em cuidados intensivos profissionais de saúde formalmente habilitados;
- Considerar a possibilidade de regulação única dos leitos públicos e privados como estratégia de rápida ampliação da capacidade de internação de casos de Covid-19;
- Estimular a produção local e nacional de equipamentos necessários para as UTIs;
- Assegurar o abastecimento de insumos, coordenando as ações de compra e logística.
Método utilizado
O estudo da Rede CoVida utiliza como método o número de pessoas que um paciente contaminado com coronavírus pode infectar, chamado de “número de efeito reprodutivo”, ou “rt”. Segundo a publicação, em março o “rt” da Bahia era de aproximadamente 3. Hoje, o índice encontra-se inferior a 1.
Contudo, a publicação aponta que a Bahia possui um grande número de casos em análise. Atualmente, são mais de 3,7 mil amostras em investigação. A pesquisadora Juliane Oliveira acrescenta que outros fatores podem influenciar nas projeções.
“É um modelo que utilizamos. Ainda tem limitações, depende de vários parâmetros e que temos um escasso número de informação para medir os parâmetros. (…) Na medida que o número de pessoas aumenta, esse parâmetro pode variar dado as circunstâncias. A superlotação pode provocar aumento na taxa de mortalidade. A medida que formos apresentando novos boletins, vamos incluir modelos para responder as perguntas da sociedade”.
Fonte: G1BA