Estudantes da UFSB tiveram aula no Quilombo da Volta Miúda

Estudantes da UFSB tiveram aula no Quilombo da Volta Miúda
Estudantes da UFSB tiveram aula no Quilombo da Volta Miúda. Foto: Ramon Muniz

Na manhã do dia 04 de junho, estudantes do CC Temas em Perspectiva Histórica e o professor Rodrigo Fonseca, do Campus Paulo Freire, visitaram o Quilombo da Volta Miúda, no município de Caravelas/BA. Na sede da associação, em uma acolhedora roda de conversa que contou com a presença dos moradores mais antigos do quilombo – os irmãos Brasília Aleixo, Brasílio Jerônimo Aleixo, Francisca Aleixo e Benedito Leocádio –, o diálogo tratou de diferentes temas do passado, como a escravidão; do presente, como os impactos da monocultura do eucalipto na região; e do futuro, como as perspectivas de regularização dos territórios quilombolas no Extremo-Sul baiano.

Para o estudante Caio Ribeiro, toda a conversa foi atravessada por memórias de afetos e conflitos, passando por diversas “estações e instâncias da vida cotidiana”, destacando desde o nascimento feito pelas mãos das parteiras, passando pela infância marcada pelo respeito aos mais velhos, à adolescência apressada e a vida adulta precoce, com o costume de casar as meninas ainda em idade pueril, como conta Dona Brasília, que relata que sua mãe se casou aos 12 ou 13 anos.

Estudantes da UFSB tiveram aula no Quilombo da Volta Miúda

Vitória, bisavó de Dona Brasília, chegou à região após ser comprada em Salvador. Levava no pulso a marca feita a ferro quente indicando a família à qual pertencia. Quando Dona Brasília era criança já não havia escravidão, mas, como aquela marca no pulso, muitas outras marcas e saberes se faziam ainda bem presentes. Uma imagem forte guardada de sua bisavó Vitória era a de quando havia tempestade forte: a idosa amarrava um pano na cabeça para melhor equilibrar um balde com uma pedra dentro e saía na chuva pedindo aos trovões que fossem logo embora, sempre falando em nagô (iorubá).

Quanto aos conflitos, a estudante Isabel Benjamim ficou impressionada com os relatos de “desmatamento e secamento do rio consequente da chegada da indústria de papel e celulose, as memórias claras de uma mata fechada e rios cheios se transformando em estradas e córregos rasos”. A cultura do eucalipto resseca o solo e compromete a subsistência da comunidade rural e quilombola de Volta Miúda. Por conta desses prejuízos, e a partir de uma forte luta da associação, a título de indenização a comunidade pôde montar uma farinheira cooperativa, cujas instalações foram visitadas após a roda de conversa. Sobre a qualidade da farinha ali produzida, o estudante Ramon Muniz não teve dúvida: “De longe, uma das melhores que eu já provei!”.

ramon muniz 2Ramon e outros estudantes ressaltaram o quanto aquelas memórias compartilhadas compõem uma parte importante da história de toda a região, como as técnicas antigas de agricultura, a criação de porcos (porcos que eram criados soltos e voltavam pra casa quando o dono chamava), a tinta extraída do barro branco, as várias formas de consumo do dendê, o purê de janganã, a fartura que havia de pesca e de caça, os remédios tradicionais, as brigas feitas em forma de canto (através de toadas e do samba de viola), a dança do bate-barriga. O estudante Bruno Rosário destacou o trabalho de resgate e resistência que vem sendo promovido pela associação: “As tradições do quilombo de Volta Miúda, pelos relatos contados, estão se perdendo e o quilombo está realizando o possível para trazer de volta essas histórias e memórias principalmente junto às crianças. Um exemplo deste resgate são as aulas de capoeira”.

ramon munizParte importante desse resgate também se dá nas festas de 22 de dezembro, realizadas desde 2009, quando o Quilombo de Volta Miúda recebe integrantes de outras comunidades quilombolas do Estremo-Sul baiano, assim como antigos moradores e parentes que não moram mais na comunidade, e sociedade em geral. Nessas ocasiões são apresentadas danças e cantos tradicionais que estão sendo recuperados com o trabalho da associação e a dedicação de mestres como Dona Brasília e seus irmãos.

Além de ter sido uma visita “divertida e educacional”, como sintetizou a estudante Natiele Silva, o tempo compartilhado foi importante na sensibilização dos desafios políticos enfrentados pela comunidade, relatados por Célio Leocádio, uma das lideranças da associação – cujo nome oficial é Associação dos Produtores Rurais Remanescentes Quilombolas de Volta Miúda (APRVM). Registros dos cantos, das danças, das festas e de todas as lutas por reconhecimento e regularização desse território quilombola podem ser acompanhadas no canal ExtremoQuilombo do YouTube.

Em 2019 uma equipe de estudantes do CC Língua, Território e Sociedade criou um site com registros do Quilombo da Volta Miúda: https://quilombolasvoltami.wixsite.com/meusite.

Texto e registros: prof.Rodrigo Oliveira Fonseca, Bruno Rosário, Ramon Muniz, Natiele Silva, Isabel Benjamim e Caio Ribeiro.

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