Erguendo a Bandeira do Servir

 Hamilton Farias de Lima, professor universitário.

“Quando estou ocupado em servir os outros, não olho para mim mesmo como um prestador de favores, mas como um pagador de dívidas”,  Benjamin Franklin (1706-1790).

O ato de servir pode apresentar inúmeras acepções, das mais simples como aquelas decorrentes de uma atividade profissional qualquer, como forma de ser um participante no âmbito social e do meio escolhido para oferecer sua oferta de trabalho, nada além de uma conduta na perspectiva de angariar recursos pecuniários.

Frise-se, porém, que, nem por isso, deve-se entender negativamente quem assim se compraz ou a exigir honorários e pagas outras, até porque eles constituem a maioria no contexto social da atualidade, em qualquer parte do mundo dito civilizado, ao auferir compensações por suas ofertas de serviços, tratando-se assim de uma simples relação trabalho versus remuneração.

Em contrapartida, em escala diferente, há outros que se põem a serviço de causas bem diferenciadas sem, contudo, se servirem financeiramente ou lograrem quaisquer proveitos pessoais! Esses seres, de consistentes conteúdos humanísticos, compõem um quadro mais que diferenciado no Podium da Olimpíada da Vida!

Na atual quadra social brasileira, mais que caótica, servir ou não servir, eis a questão, parafraseando o dramaturgo e poeta Williams Shakespeare, para muitos o maior escritor inglês de todos os tempos.  Porém, ressalte-se, o poeta afirmava “Ser ou não ser, eis a questão” (“To be or not to be, that is the question”), no famoso monólogo do Príncipe da Dinamarca, constante de sua peça teatral “A Tragédia de Hamlet”.

A questão é como desfraldar a bandeira cívica do “ser” imaginando-se um indivíduo partícipe da construção social, na perspectiva de “servir” e não, apenas “se servir” ao longo do tempo, objetivando um viver mais harmônico e, portanto, equilibrado.

O que se vê é a proliferação da tragédia do “não ser”, do “não servir”, do fugir às regras mínimas de civilidade em face às formas variadas da marginalidade, tão antevistas na vida nacional! São exemplares grupos ditos “ideológicos”, de perfis extremados à direita e à esquerda, presentes em manifestações de praças, ruas, e em mídias, apoiando ou desacatando autoridades e instituições, infelizmente opondo-se ao diálogo e ao consenso – que são formas uteis de dirimir antagonismos e posições.

Mais ainda, negam os ditames da democracia inseridos na Carta Magna de 1988 desrespeitando todo um arcabouço jurídico, direitos e obrigações que assistem a todos, em oposição ao pluralismo ideológico, como vistos em manifestações ilegais e de enfrentamento ao estado de direito vigente.

Assim se questiona, também, o desprezo à moral e à ética como instrumentos válidos, desde os tempos primordiais da história e filosofia gregas, de forma a serem observados pela sociedade permeando a polis de valores para sua edificação, no ideário do ser pensante, vez que desejável portador dos elementos constitutivos da cidadania: em síntese, seus direitos e suas obrigações constitucionais, ora aviltados.

Enfim, até porque a experiência tem reafirmado: em momentos de crise e de tensão sociais, reflexão e dialogo a serviço do bem comum são instrumentos de apaziguamento, superação e de construção coletiva, ou seja, uma forma convincente de erguer e fixar em bases seguras a bandeira do servir! É o que, presentemente, se propõe.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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