ENTRE A CRUZ E O SINÉDRIO

“No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” (João 1.29)

Acabamos de sair da Semana Santa. Como foi a sua? Jesus e o coelhinho da Páscoa estiveram muito presentes nas postagens. Quando os dois estavam na mesma, claro, o bichinho que não pediu para estar lá (nem Jesus), era desmascarado. Não era ele o verdadeiro personagem da festa, mas o Cordeiro de Deus – deixava claro a mensagem! Notei uma preocupação de muitos em esclarecer esse fato e passei a me perguntar se alguém já não o soubesse (ainda que não se lembrasse!).

Todos sabemos que coelho não bota ovo! E muito menos de chocolate! Mas fomos efusivamente esclarecidos. Todavia, ano após ano, repetindo o enredo, discutimos o assunto e ao mesmo tempo passamos longe do lugar onde realmente o problema da Páscoa reside.

Como data a Páscoa não é determinante para o cristianismo e nem mesmo tem origem nele, mas no judaísmo. Nenhum símbolo cristão é em si mesmo, determinante. E nem sagrado o bastante para nos ofendermos com os desvios. O segredo do cristianismo está nas pessoas, no quanto cada cristão discerne e personifica na vivência a mensagem de Cristo. Para além da Semana Santa, do Domingo da Ressurreição, a questão está no que revelamos nas demais semanas e domingos.

Não nos revelamos mais cristãos ou fiéis se rejeitarmos os ovos de chocolate e forçamos nossos filhos a abdicar da festividade em que todos os seus coleguinhas ganham chocolates em forma de ovo. É claro que devemos ensinar a eles a verdadeira história e mostrar-lhes a obra salvadora do Cordeiro de Deus! Mas não precisamos negar-lhes o prazer de serem parte do que as crianças tão ansiosamente esperam todo ano. O problema não está entre o Cordeiro e o coelhinho da Páscoa mas entre a Cruz e o Sinédrio.
A Cruz é o caminho de Cristo. Levado a ela por amor aos pecadores, por “desrespeitar” a sacralidade do templo, por reler a tradição dos antigos, por fazer-se amigo de publicanos e pecadores. E pelo caminho da Cruz seguiu até o fim, abrindo as portas do paraíso ao ladrão arrependido e pedindo misericórdia para os sacerdotes, escribas e fariseus.

O Sinédrio é o lugar da conformação, dos interesses estabelecidos e dos acordos que garantem o status quo. Nele se formam as confrarias dos que rejeitam em nome de Deus, apegados ou ansiosos por uma cadeira de honra, por um lugar de destaque. Dos que valorizam a aprovação das “pessoas de bem”! Gente que se vê diferente, com pouco, quase nada a confessar ou de que arrepender-se. Orgulhosos pelo que sabem sobre Deus, seguem altivos enquanto pouco enxergam e menos ainda conhecem pessoas, suas dores e histórias. Gente resistente a olhar além, a ouvir, exceto as vozes de ontem. Ignorantes sobre as inquietação promovidas pelo Espírito, confundem a letra morta com a Palavra Viva.

A Páscoa desse ano se foi. Que até a próxima vivamos como quem segue Aquele que, condenado pelo Sinédrio, seguiu para a Cruz onde sofreu a morte de pecadores, para que pecadores recebam paz, alegria e vida!

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