A escalada dos conflitos armados no Oriente Médio tem impactado diretamente o custo do frete marítimo global, que dobrou de valor desde dezembro. Além dos atrasos nas rotas globais, que já ultrapassam 15 dias, os preços do transporte de contêineres no mercado à vista devem continuar a subir enquanto durarem os confrontos. O conflito entre Israel e Hamas, que se estende desde outubro passado, ataques dos rebeldes Houthi a navios no Mar Vermelho, incluindo embarcação de contêineres, agravaram os problemas enfrentados pelos armadores na região do Oriente Médio, acrescentou o portal do Bloomberg Línea.
Segundo levantamento da MTM Logix, empresa especializada em monitoramento de embarques internacionais, hoje o preço do contêiner está em torno de US$ 5.000 no corredor China-Estados Unidos/México, uma das principais rotas globais. “O mercado spot é muito volátil. Quando acontece esse tipo de evento, o impacto é imediato”, disse o CEO, Mario Veraldo.
Por ora, a empresa projeta um aumento médio de 5% a 10% no preço do frete em 2024, mas tudo dependerá do tempo que os conflitos vão durar. Ele ressaltou que é difícil estimar se os preços do frete vão chegar a US$ 10.000, como aconteceu no auge da pandemia.
“Começamos a ver as curvas de preços subindo e os armadores estão trabalhando para tirar os contêneires da China antes do Ano Novo Chinês em 10 de fevereiro. Quanto mais tempo durarem os conflitos, mais o frete vai subir”, disse o executivo.
De acordo com a CEO e sócia-fundadora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, o seguro de cargas disparou em meio à instabilidade na região do Oriente Médio. Os navios estão usando a rota da África via Cidade do Cabo, adicionando mais dez dias de navegação. Em paralelo, o baixo nível de água do Canal do Panamá também reduziu e limitou o tráfego de navios, o que contribui para o aumento do preço do frete marítimo, apontou.
Tempestade perfeita
À medida que a crise no Oriente Médio se prolonga, o “efeito cascata” na cadeia logística global se agrava, em uma espécie de “tempestade perfeita”. Um dos primeiros aumentos de custos verificados nesse contexto é o do seguro dos navios, mas não só das embarcações que circulam nas zonas de conflitos, uma vez que os prêmios mais altos são diluídos pela frota inteira.
“O mercado global tem determinada capacidade de refino de bunker. Várias refinarias estão na zona de conflitos”, disse Veraldo.
Navios graneleiros
Os navios graneleiros, que transportam produtos como minério de ferro e soja, ainda não estão sendo afetados pelos conflitos porque os contratos geralmente são de longo prazo, com espaço e preços fechados com antecedência. Essas embarcações assim como navios petroleiros têm rotas mais flexíveis, adaptando-se às condições vigentes. Na avaliação do analista de mineração e siderurgia da Tendências Consultoria, Matheus Ferreira, por ora, a tendência é que os volumes de exportações brasileiras de minério de ferro sejam pouco afetados, uma vez que as rotas impactadas pelos conflitos não são frequentemente usadas pelas companhias brasileiras.
“Devemos ter falta de navio graneleiro porque as empresas estão fazendo rotas estendidas. Com a extensão dos conflitos, chega um ponto em que o transporte de grãos por contêiner começa a ficar interessante. Não me surpreenderia ver açúcar e minério sendo transportado por contêiner nas próximas semanas”, concluiu o portal do Bloomberg Línea.
Fonte: Bahia.ba