Eleições americanas

Eleições americanas

“Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário.”
George Orwell

A literatura pode antecipar a história? Isso é o que penso como aqueles que depois do dia de eleição esgotaram os exemplares de 1984, o romance de George Orwell. Mas, também, aqueles que acreditaram encontrar uma antecipação de Trump no romance de Sinclair Lewis It Can’t Happen Here (Isso não pode acontecer aqui) – publicado em 1935, ou seja, 11 anos antes do nascimento do atual presidente –, cujo tema é a criação de um Estado fascista nos Estados Unidos.

Lewis escreveu It Can’t Happen Here com uma visão extremamente lúcida dos regimes fascistas europeus de seu tempo, mas, também, como uma advertência sobre o que poderia acontecer nos EUA se as tendências já existentes se exacerbassem no país, todos os personagens do romance têm seus correspondentes em pessoas reais; no romance, Windrip ganha a eleição e, embora (como afirma um personagem) “isso não poderia acontecer aqui: somos um país de homens livres”, o ex-senador se lança na criação de um regime fascista caracterizado por uma redução drástica das liberdades civis semelhante ao que Trump parece pretender.

A criação de milícias irregulares e a perseguição aos sindicatos e à imprensa independente por parte do Governo são produtos, no romance, de uma visão que também parece ser a da Administração Trump, segundo a qual “professores universitários, jornalistas e escritores famosos” envenenaram a população: diante disso só mesmo uma guerra, e Windrip inicia uma contra o México, que acusa de agressões inexistentes, num exercício prematuro de pós-verdade. Não é uma verdade nem um ato revolucionário como diz George Orwell.

No final, o personagem de Lewis (cuja única convicção é “a superioridade de qualquer pessoa que tenha um milhão de dólares”) perde o poder, mas aí já é tarde demais para um Estados Unidos desintegrado e em plena guerra civil.

Sabemos que o eleitor típico do Partido Republicano no campo social, defende políticas conservadoras de defesa da família, opõe-se ao casamento entre homossexuais ou ao financiamento de abortos com recursos públicos. O partido Democrata se apresenta como uma organização de centro-esquerda, com a proposta de equilibrar o capitalismo com programas sociais. Apoiado pelos sindicatos, defende o direito das minorias, ao aborto, à educação pública e às minorias.

Não é difícil achar ideias antagônicas nas propostas oferecidas, é bem mais que palavras e histórias e estas ideias caem como confete ao redor do eleitor americano e a dificuldade será decidir quais aproveitar e quais deixar cair no chão.

*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe no site www.osollo.com.br.

1 COMENTÁRIO

  1. Excelente reflexão, o autor mostra ter um conhecimento racional dos fatos abordados e os autores citados foram capazes de se antecipar à realidade atual, principalmente a figura nefanda do BBB.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui