Por Luiz Oss
Em questão de dias, nós brasileiros teremos a honra de comemorar mais um Dia da Independência. Logo veremos incandescer em nossos corações a chama do patriotismo tão candente quanto a explosão de uma supernova na galáxia de Andrômeda. Ah! Já consigo imaginar o som dos coturnos dos soldados marchando pelas avenidas empunhando relíquias empoeiradas da Segunda Guerra Mundial; do hino nacional sendo cantado à exaustão, enquanto boa parte do público balbucia em voz baixa a letra do qual desconhecem para não passarem vergonha…Como não amar esse dia?
Claro que não precisa ser nenhum gênio para notar o sarcasmo ao longo do parágrafo anterior, a não ser que o seu Tico e Teco tenham se matado num duelo de pistolas ao disputarem por uma noz. Contudo, antes de me chamarem de antipatriota, saiba que esse que vos fala emana um genuíno sentimento ufanista. Claro que não sou nenhum Policarpo Quaresma da obra de Lima Barreto, que hiperbolicamente idolatrava qualquer elemento nacional; mas cultivo, sim, o orgulho de ser brasileiro – não estou sendo sarcástico, juro! –, afinal compartilho da mesma nacionalidade de uma das maiores personalidades da Humanidade, Sua Majestade Dom Pedro II, um erudito do mais alto quilate que governou o País com uma maestria e sapiência sem precedentes em nossa História, configurando o Brasil numa nação respeitada internacionalmente – embora que hoje em dia nem mesmo republiquetas como a Venezuela nos respeita.
Não obstante, meu objetivo aqui não é tecer elogios a uma figura tão proeminente quanto Dom Pedro II, o maior líder que tivemos – e que provavelmente teremos até a consumação dos tempos –, mas sim de excogitar a respeito do que entendemos por independência. Quando Dom Pedro I – que infelizmente não compartilhava das mesmas qualidades que seu filho – protagonizou o processo de emancipação nacional, tornando o Brasil independente de Portugal, certamente o mesmo não tinha ideia de que apenas tornaria o País livre do colonialismo português para torna-lo uma colônia de Brasília. Hoje em dia, comemorar o 7 de setembro é o mesmo que um polonês celebrar a derrota nazista no pós-guerra, estando sob o jugo soviético.
Evidente que não quero com isso defender que deveríamos desprezar todo o simbolismo inerente a data; mas conferir a ela um sentido de renovação. O 7 de setembro não pode ser um fim em si mesmo, mas uma bússola capaz de nortear-nos em direção a um caminho emancipatório a fim de rompermos com os grilhões desta colonização em voga. Destarte, a data viabilizaria a conscientização das massas de que é factível erguer novamente uma espada para o alto e proclamar sobre um cavalo: “Independência ou Morte!” – independente que tal imagem eternizada no quadro de Pedro Américo não tenha sido fiel aos fatos, uma vez que na ocasião Dom Pedro I estava montado em uma mula.
Portanto, o 7 de setembro deve ser revestido de um valor didático, como forma de incutir na consciência de cada brasileiro que temos condições de nos emancipar da influência nefasta da casta política brasileira – do contrário será apenas mais um feriado destinado a assistir às séries do Netflix. Contudo, diferente do Brasil no século XIX, que teve que pagar à Portugal uma indenização de 2 milhões de libras para ser oficialmente reconhecido pela ex-metrópole como uma nação independente, nós brasileiros não deveremos dar nem mesmo mais um tostão para os nossos atuais colonizadores.