Estamos nesse mundo no qual crianças da mesma idade vivem em dois lados diferentes: as que jogam joguinhos no nosso celular e as que são treinadas para roubar celular. É um mundo muito doente. Esta dualidade, este paradoxo da desigualdade social, que nos habituamos a viver. Os meninos que roubaram celular, muito antes disso, a infância e o futuro delas foram roubados pelo sistema podre com o qual diariamente compactuamos.
Se a ciência e a tecnologia de hoje podem vencer guerras, como sugere a história do conflito militar, então ao invés de contar nossas bombas inteligentes, deveríamos contar nossos professores inteligentes, nossa educação de qualidade, que ainda não temos. Apagar esta história triste da desigualdade social, só isto, vale a pena ser ou ter. Milhares de crianças são hoje o cadáver vivo do descaso, da corrupção de governos passados.
O que temos a nossa frente são os campos infinitos da esperança. Pois neste Brasil de hoje minha sensibilidade ficou como se me dessem uma surra de urtiga, com tantas pessoas a margem da sociedade. Agora, nesta polarização, vejo que os “mandamentos” que governam a vida de muitas pessoas retiraram nos últimos quatro anos, como numa cirurgia bem-sucedida, seus instintos humanos naturais, de forma tal que elas se tornaram incapazes de reconhecer a empatia e compaixão.
Do modo como vemos as coisas, tanto nosso presente quanto nosso futuro dependem do nosso voto, do que entendemos como valores para nossa vida. Numa democracia, cada um tem seu modo de pensar. Cada um tem sua vida e suas hora, a gente vem ao mundo como quem ganha na loteria. Fulaninho de tal, parabéns, é a sua vez de nascer, você recebe um corpo, arranjam lugar em um útero e por fim é parido por alguém que, em geral, se costuma chamar de mãe.
Mas menos evidências, porém mais contínuos, são os sacrifícios diários de inclinação e desejos que a vida social exige daqueles que dela participam, principalmente os mais carentes. A verificação de que nosso Brasil depende de políticas públicas, espero que desperte muitos eleitores em qual direção o voto é mais útil.