Dons relacionais

“Quanto ao mais, tenham todos o mesmo modo de pensar, sejam compassivos, amem-se fraternalmente, sejam misericordiosos e humildes.” (1 Pedro 3.8)

Uma fé relacional nos coloca diante do desafio de desenvolver nossos dons relacionais. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Essa é uma perspectiva estruturante de nossa fé. Essa similaridade com Deus nos torna capazes para nos relacionarmos. Com Ele, com as pessoas e com o mundo criado. O ideia desses relacionamentos é que, em relação a Deus, por exemplo, aprendamos a pertencer (num sentido humano, existencial, e não objetificado). Que aprendamos a nos ver como filhos amados, confiando e nos submetendo por amor a Ele. Não por interesse, não para merecer, não por medo de sua “mão pesada”. Entre nós e Deus jamais haverá mérito, sempre graça! Em relação às pessoas, somos chamados a uma reciprocidade amorosa, generosa. Há uma série de mandamentos denominados “uns aos outros” ou “mandamentos de mutualidade”. E mesmo para as pessoas que não se revelam recíprocas, que nos retribuem com o mal o bem que fizemos, somos orientados a amar e perdoar.

Em relação ao mundo criado somos orientados a reconhecer nela a grandeza e beleza de Deus. Somos orientados a cuidar e preservar. Nossa fé é relacional porque o Deus que nos encontrou e amou, o Pai de nosso Senhor, Jesus Cristo, é relacional. Tudo que Ele criou está inter-relacionado, é interdependente. De modo que não é possível ferir o outro e mesmo a natureza, sem ferirmos a nós mesmos de alguma forma. Quando não tratamos amorosamente o outro, nos desumanizamos. Por isso Pedro, ensinando-nos a prática de nossa fé, orienta: sejam unidos no modo de pensar. Isso não se conquista sem que aprendamos a ouvir, sem que resistamos ao nosso ímpeto de falar mal, nos distanciar e criar divisões. Orienta que sejamos compassivos. A compaixão deve ser uma atitude permanente em nós. Compadecer-se é sentir com o outro. E quando sentimos, compreendemos, não julgamos, não desprezamos. “Amem-se fraternalmente”. O amor é central em nossa fé. O resultado do fortalecimento da fé, na perspectiva cristã, não é crescer em poder, mas em amor. Lembremo-nos, nossa fé é relacional e não um empreendimento.

O verso termina com o pedido para que sejamos misericordiosos e humildes. O misericordioso é alguém que perdoa, compreende e acolhe com facilidade. O humilde é alguém que resiste ao egoísmo e procura servir e cuidar, em lugar de ocupar-se apenas da  satisfação de si mesmo. Nossa fé é relacional, por isso crer é torna-se alguém cuja vida, mais e mais, revela esses dons relacionais listados por Pedro. Uma igreja cheia de pessoas que sabem muitos versos, cantam muitas músicas bonitas, que se satisfazem com as emoções das liturgias que preparam e com as coisas que dizem para Deus em suas orações, ainda não é a igreja que Cristo espera. Essas coisas são boas, mas sem unidade, compaixão, amor, misericórdia e humildade, não é mais do que tantas outras instituições podem ser. Ser igreja é viver a fé que nos coloca em relacionamentos que abençoam. A nós e ao outro. Porque a fé do Evangelho de Jesus é relacional.

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