A diretora e proprietária de uma escola particular de Curitiba (PR), onde crianças foram vítimas de maus tratos, foi indiciada pelo crime de tortura-castigo contra alunos da unidade. Em algumas situações, a mulher teria obrigado as crianças – com idade entre dois e seis anos – a comerem o próprio vômito, após forçar a alimentação.
A investigação teve início no dia 1º de abril deste ano, quando um boletim de ocorrência foi confeccionado denunciando as ações de Jussara Pazim, de 64 anos. Durante o trabalho do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria), 54 pessoas foram ouvidas – entre elas, 19 vítimas menores de idade.
“Concluímos por indiciar essa mulher por crime de tortura-castigo. O inquérito já está relatado, foi encaminhado ao Ministério Público que agora, analisando, vai poder oferecer denúncia e o processo criminal vai correr”, explicou o delegado José Barreto.
De acordo com a delegada Ellen Victer, que também comandou as investigações, as agressões e torturas aconteciam desde 1997, ano em que a indiciada adquiriu a escola.
“Diante das 54 oitivas que a gente fez, foi verificado que na hora de alimentar as crianças, ela forçava as crianças a comer. Algumas crianças vomitavam, esse vômito se misturava na comida e ela obrigava a comer junto. Fazia fila em banheiro para dar palmada das crianças, deixava algumas delas presas no vaso sanitário por horas a fio sentadas, ficaram até com hematomas nas perninhas. Também levava para castigo na salinha da secretaria e deixava a criança lá um dia inteiro sem contato com os demais, que estavam brincando… foram diversas formas de agressão física e psicológica”, detalhou Ellen.
Um vídeo divulgado no começo de abril mostraram a mulher aparentemente agredindo um aluno que, depois de se debater, aparece imóvel nas imagens.
“Ela alega que a criança estava sufocada e ela precisou fazer um ato de socorro, o que não nos convence, pois em nenhum momento a criança aparece pedindo ajuda”, comentou Barreto.
Além disso, Jussara teria alegado durante as investigações que tinha uma “postura firme” na educação com as crianças. “São atos de violência de fato totalmente incompatíveis com crianças daquela idade”.
Questionado sobre o envolvimento de outros profissionais na agressão ou no fato de terem negligenciado ao não denunciar as ações da diretora, Barreto afirmou que Jussara manipulava os funcionários.
“As ações eram percebidas, mas havia grande temor por parte de outras professoras pela postura rígida que essa diretora tinha. Ela [Jussara], inclusive, falava que podiam denunciar ela, pois conhecia juízes, promotores, delegados e nada aconteceria. Além disso, ela tentava convencer os pais que o fato da criança estar chorando era porque não tinha se comportado direito e, por isso, ela teria que ter sido ‘firme’ na educação”, detalhou o delegado, que lembrou da importância dos pais conversarem com os filhos e notarem mudanças comportamentais ou, até mesmo, sinais de agressão.
As agressões geraram, ainda, traumas nas crianças, que mesmo após mudarem de escola seguem com medo de professores e funcionários.
“Todos esses atos geraram trauma nas crianças, foram atos graves. Inclusive, em oitivas de vários pais, eles mesmos trouxeram relatos de que as crianças estavam até traumatizadas nas novas escolas. Tem relatos de crianças que perguntavam se a professora não estava ali… então é um prejuízo muito grande para a saúde psicológica dessas crianças”, disse.
Jussara se apresentou espontaneamente na delegacia e, de acordo com os delegados, está colaborando com as investigações.
“Dois aparelhos de DRV contendo diversas imagens foram encaminhados para a criminalística e ontem descobrimos que havia um terceiro aparelho, que posteriormente nos foi apresentado e encaminhado”, finalizou Ellen.
A diretora foi indiciada pelo crime de tortura castigo, que prevê pena de dois a oito anos.
Fonte: Massa News