Deus não facilitou

“Prepare-se como simples homem; vou fazer-lhe perguntas, e você me responderá. Onde você estava quando lancei os alicerces da terra? Responda-me, se é que você sabe tanto. (…) O Senhor disse a Jó: Aquele que contende com o Todo-poderoso poderá repreendê-lo? Que responda a Deus aquele que o acusa! Então Jó respondeu ao Senhor: Sou indigno; como posso responder-te? Ponho a mão sobre a minha boca.” (Jó 38.3-4;40.1-4)

O discurso de Eliú vai até o capítulo 37 e então, Deus, que estava em silêncio, começa a falar. Mas, ao falar nos choca, pois não faz nada do que Jó talvez esperasse: não esclarece a situação, não justifica Suas decisões, não dá explicações para satisfazer a necessidade que Jó tinha de entender porque tanta dor. Deus simplesmente aparece e começa a fazer perguntas. Contei 69. Sob o silêncio de Deus Jó está perturbado pela falta de sentido e diante de Deus ele é confrontado com sua insignificância, levado a perceber quão pouco sabe sobre o mundo em que vive, do qual, Deus é o Autor, Criador, Soberano e Inquestionável Senhor.

O livro de Jó pode nos escandalizar sobre Deus, revelando-O livre demais, ao ponto de jogar com a vida de um homem. Mas essa visão de Deus, esse caráter Soberano que o faz desobriga de prestar esclarecimentos, de dar ouvidos a queixas ou de importar-se com reclamações, é contrastado com um Deus interessado e amoroso. Pois as Escrituras também nos revelam um Deus próximo demais, insistente com o ser humano e desejoso de contato. Isso aponta para a qualidade de Seu amor que é pura escolha, bondade e misericórdia. Deus nos amou sendo possível a Ele nos ignorar completamente! Com Jó ele está sendo (ainda) bastante duro: “eu sou Deus e você um simples homem; eu sei e posso, você não. Não venha questionar o que estou fazendo. Ponha-se em seu lugar!”

Pode alguém amar e servir a Deus por nada? Pode alguém continuar oferecendo a Deus sua devoção se Deus simplesmente o trata mal, não o ajuda em suas dores e ainda por cima se revela impositivo, o dono do mundo, demonstrando sua superioridade diante de um homem ferido, cansado e solitário? Por menos que isso muitos de nós desistiram de crer em Deus. Jó não. O livro está nos ensinando sobre devoção. Ela precisa seguir rumo ao completo desinteresse, ao ponto de sustentar-se pelo simples fato de sermos quem somos e Deus ser quem é. Jó chegou a este ponto. Deus não lhe deve mais nada. Nem explicações nem recompensas. O Diabo perdeu sua aposta com Deus, sem que Deus facilitasse as coisas um mínimo que fosse.

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