“A gente escreve o que ouve, não o que houve”. Oswald de Andrade.
Imagine um prédio de 45 andares. Agora, pense nesse prédio caindo na sua direção e bloqueando o único caminho que existe entre você e o mundo exterior. Essa foi a realidade enfrentada por 33 mineiros presos na mina San José, no Chile, a 800 quilômetros ao norte da capital Santiago, em 5 de agosto de 2010, e agora assistimos parte de um prédio de 12 andares desabou na Flórida na madrugada da semana passada com cento e cinquenta pessoas desaparecidas, acredito que como os mineiros do Chile estas pessoas, se ainda vivas ou as que morreram tempos depois, tiveram em alguma parte profunda do cérebro, onde são regidos os instintos de luta ou fuga, uma porta oculta que se entreabriu e ofereceu um breve vislumbre da tragédia, mas foram afogados pelos sons e pelas sensações, com um estranho silêncio após um tinido metálico chacoalhando na quietude. Estes horrores do desabamento habitaram a escuridão da madrugada para estes seres humanos.
E o relógio parece girar mais devagar, os ponteiros se arrastando. Os únicos sons são a respiração, o vento que corre e o fogo dos escombros. A semi escuridão e o silêncio são como estar num inferno, o contraste esmaga, preso e querendo a liberdade dos escombros. Eles avançam pelo caos, o momento impõe- lhes aflições. Quando as trevas passarem ,se passarem, vão desejar que morram as experiências traumáticas do passado! É preciso que a psique debilitada se sinta bem e que a vida prossiga.