Eu tenho um grande defeito. Gosto de pensar que todos nós temos um, não ter tido controle sobre a minha vida quando criança. Então, para evitar decepções, aprendi a nunca me perguntar o que realmente queria. E isto funcionou por um longo tempo. Só que agora, ao perceber que “não conseguir o que não sabia que queria, eu estou voando por uma rodovia em um carro que grita, você é idoso”. Talvez meu grande erro seja não dar seta quando estou dirigindo neste carro da vida, talvez por ser um romântico incorrigível.
Simplesmente, não consigo parar de olhar o mundo romantizado para mim mesmo. Este mundo da minha própria vida, com a trilha sonora melodramática e a luz dourada atravessando as janelas do carro. Quando o mundo parece escuro e assustador, sempre acho que o amor pode nos resgatar, pelo menos no meu mundo, onde a beleza pode esburacar o medo e a solidão. Neste melodrama decidi que minha vida tem beleza, com a pessoa que compartilho minha vida, com velas, vinho e poesia.
O fato é que sempre contei para mim uma linda história sobre a vida, sobre o destino e o modo como as coisas acabam dando certo, mas a vida e as pessoas não são melodramáticas, a maioria é pragmática. Então, agora com sessenta e cinco anos, de uma hora para outra, as nuvens se dissiparam. O sol saiu, o céu ficou azul e tudo ganhou vida, como quando colorem uma foto antiga, continuo com minha visão romântica, mas não coloco o mundo todo nele.