De dentro para fora

“Não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é meramente exterior e física. Não! Judeu é quem o é interiormente, e circuncisão é a operada no coração, pelo Espírito, e não pela lei escrita. Para estes o louvor não provém dos homens, mas de Deus.” (Romanos 2.28-29)

De dentro para foraO Antigo Testamento narra a manifestação de Deus na história, especialmente na história do povo judeu. Embora Deus tenha se manifestado também a outros povos, é a história do povo judeu que domina o relato bíblico, que aparece como o “povo de Deus”, a quem Deus protege, defende, guia e conduz. Mais adiante, com a formação da igreja, já no Novo Testamento, ela passou a ser identificada como “povo de Deus”. O apóstolo Pedro, em princípio um defensor da fé judaica como identificadora do povo de Deus, mais tarde abriu mão dessa perspectiva e declarou aos cristãos, judeus e gentios (não judeus): “vocês são a geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus” (1 Pd 2.9). Estes termos eram antes aplicados exclusivamente aos judeus. Paulo é o precursor dessa compreensão e, em seu ensino, vai ainda mais longe que Pedro.

Valendo-se da figura do judeu e da circuncisão, judeu como “povo de Deus” e circuncisão com símbolo de “aliança com Deus”, Paulo diz que a verdadeira identidade espiritual do “povo de Deus” é interior e não exterior. Não há símbolo, rito ou cerimônia que faça de uma pessoa “povo de Deus”. Alguém que pertence a Deus, é Seu povo, é alguém cuja identidade vem de dentro, do coração. Uma identidade autenticada, validada, pelo próprio Deus. Em última análise, não se trata do que eu digo sobre mim ou você, mas do que Deus diz. Nem os ritos e os costumes judeus e nem os ritos e os costumes cristãos podem reconciliar pessoas com Deus. Ainda que derivem das Escrituras, não é a prática de tais ritos ou costumes que nos tornam “povo de Deus”. Ainda que observados rigorosamente, se não formos objeto da ação de Deus por meio do Espírito Santo, mudando-nos de dentro para fora, isso não passará de mera religiosidade.

Mas quando cremos no amor de Deus revelado em Cristo Jesus e a Ele nos entregamos pela fé, somos envolvidos numa ação realizada pelo próprio Deus em nossas vidas. Paulo diz que é a “obra de Deus em nós” (Fl 1.6). Uma obra que jamais fica incompleta e que segue ao longo de toda a nossa vida. Um processo amoroso e delicado, feito por Deus, mudando-nos de dentro para fora, fazendo-nos novas pessoas, com novas perspectivas e atitudes. Uma compreensão da vida que alimenta a paz e o sentimento de segurança, independente das circunstâncias, se estabelece. Como disse Paulo: por saber em quem creio não tenho medo do final! (2Tm 1.12). Por causa de Deus a vida torna-se outra! Eu torno-me outro (2Co 5.17) que, na verdade, revela-se o meu verdadeiro “eu”. Ritos e cerimônias não tem o poder de fazerem isso. Só Deus, que graciosa e amorosamente, muda-nos. Interiormente. Dia a dia. E para melhor.

 

 

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