Antes de falecer, no leito de morte, minha sogra disse: “Cuide de minha filha”. Para mim, foi uma escolha fácil de cumprir, mas está frase ficou enterrada na minha alma.
Em algum lugar entre o que vemos e sentimos, está a frase, em dimensões diferentes, ai está também nossa ligação.
Do que significou para ela, que estava morrendo, ter vivido todas as aspirações, todas as paixões, todos os sofrimentos, os reveses da sorte, e no fim pensar no futuro e no cuidado de sua filha?
Se fosse resumir sua vida teria como definição a palavra “Cuidar”. Teve sete filhos e adotou mais quatro. Sua casa era sempre cheia, sabia receber e levar alegria a todos.
Hoje, com a vida tão rápida, sinto uma diminuição desta maneira de ser, tão natural.
Mas só começamos a perceber a importância de um ato, como este, feito num momento tão frágil, e suas consequências no sentido global de sua existência, muito depois que esse evento deu estrada naquele reino que é chamado “memória”.
Não se pode nunca subestimar o modo como a casualidade governa grande parte da existência humana, nem o fato de que estar em determinado lugar, num determinado momento, vai mudar a trajetória das coisas. Estar ali foi significado, senti minha responsabilidade como esposo, senti o pedido de uma pessoa que sempre viveu para a família.
Minha sogra foi um ser humano, durou um tempo e apresentou sua beleza própria antes de desaparecer, jogada na eternidade. Cada um de nós é único, mas não separados.
Todos nós fazemos parte do mesmo oceano que é a vida. E em respeito a ela e a este oceano, continuo cumprindo a minha promessa, já que o amor governa o cumprimento deste desejo e seu pedido foi um prêmio para a minha vida.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe semanalmente no site www.osollo.com.br.