Morei em Porto Seguro na infância e nossa cozinheira era “Deca”. Meu pai me contou uma frase dela que dizia: “Sentada no fogão de noite, a gente pode ver as estrelas pela chaminé”.
A casa tinha uma chaminé parecendo com dentes na forma como se erguia do teto, feito de outro material mais duro. A chaminé descia pelo teto, se expandindo, de maneira que no ponto mais baixo, quando chegava na cozinha ocupava toda uma parede de alvenaria.
Mas não eram nervos que corriam pelo espaço oco no interior e sim fumaça e, ao contrário do que acontece num dente, uma chaminé é aberta ao longo de toda a extensão e em noites claras podia ver as estrelas.
Ela varria o chão, pois fazia faxina toda terça-feira. Usava uma sacola para os produtos de limpeza. Lavava xícaras e pratos sujos e depois enxugava. As facas sujas também eram limpas, esfregava a mesa e a pia.
As vezes saia da frente do fogão e ia a janela com vista para o quintal, que tinha um pé de abacate. Antes de trabalhar conosco, sofreu muito pois os filhos a abandonaram, teve cinco, o marido já tinha falecido então foram anos de sofrimento o seu passado. Vejo tais recordações como parte de meu presente.
*João é natural de Salvador, onde reside. Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é perito da Justiça do Trabalho e Federal. Neste espaço, nos apresenta o mundo sob sua ótica. Acompanhe semanalmente no site www.osollo.com.br.