Tenho uma tia que foi freira por dez anos e após dez anos, no momento dos votos perpétuos, desistiu. A contemplação ascética, as penitências, as fomes, os suplícios dos pios beneditinos, nem são do nosso tempo. Mas não sabemos por que, entre dois extremos, não haverá um meio preferível. São Bento e Santo Antônio nunca sonharam com fazendas, nunca administraram terras, nem assinaram contratos; foram uns pios solitários, que recebiam por milagre o pão negro de cada dia, e passavam muitos dias sem levar à boca nem uma migalha de pão, nem um gole d’água.
As virtudes monásticas de hoje estão longe daqueles modelos primitivos; mas, se não se lhes pede sacrifício igual, também não se lhes pode conceder uma existência anacrônica, sem objetivo nem utilidade prática. Todas as instituições humanas trazerem em si o gérmen de sua destruição, e os conventos estão acabando. Acho que minha tia e muitos que desistiram da clausura pensaram, chega de sublimar a fé. Querem viver as suas vidas, ver e apalpar, entrar na realidade, deixar a clausura pelo mundo real, deixar este eterno mundo invisível. Vivemos num mundo rápido, e o agora tem rapidez em ser vivido e sentido.