O meu aprendizado da vida, adquirido de mim mesmo, conhecimento perturbado pelo pânico de quem completou seis décadas de vida (e, portanto, mais perto do fim) o feixe da minha vocação foi mantido, pois desde criança sempre gostei de ler e depois escrever. Mas no percurso da vida passei por períodos de falta de força e de fé em mim mesmo, que me tornaram inapto para qualquer competição normal que a vida proporciona, e que foram como que aleijando: à medida que era seguidamente derrotado, não na luta, mas na desistência, fui obrigado a acreditar numa fantasia ou num dom, mais inventado do que sentido, para salvar-me.
Este esforço de transformar uma ilusão possível numa realidade praticável me tornou quase cego, para o exercício cotidiano, no mundo dos outros. O resultado é que desaprendi ou fui deixando de aprender várias coisas que me fazem falta no dia a dia geral, comunitário, que dariam, inclusive, à futura profissão de escritor maior amplitude.
O meu eu de antigamente só conseguia desvendar uma pequena fração desse universo da escrita. Mas o meu eu atual é capaz de enxergar um mundo inteiramente maior e, hoje, com o lançamento do meu terceiro livro “Crônicas Azuis”, sinto que valeu a pena ler seis livros por mês e escrever diariamente das quatro as seis da manhã.