O caso da mexerica descascada gerou debates acalorados nas redes sociais nessa semana. Tudo começou quando um internauta publicou, na sua conta no Twitter, a foto de uma mexerica comercializada sem casca e em gomos em uma unidade da rede Carrefour no Paraná. O quilo custava R$ 2,89, contra R$ 2,49 do produto a granel.
Houve quem criticasse a “goumertização” da mexerica, quem apoiasse a ideia e aqueles que acharam a polêmica desnecessária. E o conflito para decidir o verdadeiro nome da fruta –mexerica, tangerina ou bergamota?– ganhou contornos próprios.
Veja abaixo curiosidade sobre mexerica, ou tangerina, ou bergamota.
1 – Nome da discórdia
Mexerica, bergamota (ou vergamota), laranja-cravo, laranja-mimosa, mandarina, mimosa, tangerina-cravo e tangerina-do-rio são, segundo o dicionário Houaiss, nomes diferentes para uma mesma fruta: a tangerina.
“Tangerina” é o feminino de “tangerino”, adjetivo relativo a Tânger, cidade do Marrocos, no noroeste da África.
“Mexerica” é uma regressão de “mexericar”. “Os estudiosos atribuem o nome do fruto ao fato de o odor forte denunciar quem o comeu”, explica o verbete do Houaiss. O termo é mais usado nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.
No Sul, a fruta é conhecida como bergamota, ou ainda, vergamota. A palavra pode ter origem do turco “beg armüdi”, que significa “pera do príncipe”.
Em algumas regiões do Nordeste, a tangerina é conhecida ainda como “laranja-cravo”, e no Paraná, como “mimosa”.
2 – Citrus reticulata
O nome oficial da tangerina, e, portanto, da mexerica, é Critus reticulata. Ela pertence ao gênero Citrus, da família Rutaceae, da ordem Sapindales, classe Magnoliopsida, da divisão Magnoliophyta e, por fim, do reino Plantae.
Além da tangerina, o gênero Citrus tem duas outras espécies –Citrus medica (cidra) e Citrus maxima (cimboa)– e inúmeros híbridos, como a laranja (Citrus maxima x Citrus reticulata) e o limão (Citrus x limon).
A tangerina é originária do sudeste tropical e subtropical da Ásia, na região onde hoje estão países como Índia e China. Durante a Idade Média, ela foi levada para o norte da África e, de lá, seguiu para o sul da Europa. No Brasil, as primeiras referências à fruta datam de 1817.
3 – Tolerante
A tangerina tem uma boa faixa de adaptação climática, podendo ser resistir a temperaturas que variam de 23 °C a 32 °C. No Brasil, a safra concentra-se, normalmente, de maio a agosto, mas pode se estender de março a setembro.
Segundo boletim do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), a colheita de poncã no Estado de São Paulo deve terminar ainda em julho. A maior suscetibilidade a doenças pode estar desmotivando o cultivo da fruta. A fruta pode ser consumida “in natura” ou processada na indústria para produzir de sucos, doces, geleias, sorvetes, óleos essenciais, rações, entre outros.
4 – Nem tudo é poncã
Em geral, a tangerina tem superfície lisa, de cor laranja a vermelha, e nove a 13 gomos. Existem, porém, diversas variedades de tangerina. As mais cultivadas são:
#Poncã: a mais comum no Brasil, tem frutos grandes, fáceis de descascar, com pouca acidez e gomos que se separam facilmente. Como precisa de clima mais ameno para ser cultivada, as plantações se concentram nas regiões Sul e Sudeste.
#Tangerina-cravo: amadurece antes da poncã e produz frutos mais ácidos
#Dekopon: fruto híbrido, resultante do cruzamento da poncã com a kiyomi (fruta cítrica híbrida japonesa), desenvolvido no Japão em 1972. O fruto é grande, sem sementes e com sabor ácido.
#Murcote: fruta híbrida, nascida do cruzamento da tangerina com a laranja. Os frutos são achatados, com uma casca fina e aderente, muitas sementes e um gosto mais próximo da laranja. A fruta é bem doce e matéria-prima principal para os sorvetes de tangerina.
Outras variedades populares incluem a Dancy e Montenegrina.
5 – Proteção e digestão
Assim como as demais frutas cítricas, a tangerina é rica em vitamina C (ácido ascórbico), que ajuda a melhorar o sistema imunológico, entre outros benefícios.
É rica também em fibras, sobretudo sua casca, o que ajuda na digestão, e potássio, que contribui para a saúde cardíaca.
Cem gramas de tangerina fornecem quase 38 calorias. Para comparar, uma maçã de mesmo peso oferece cerca de 60 calorias, e uma laranja, 45 calorias.
Veja outros dados nutricionais da tangerina:
Carboidratos 9,6 g
Proteínas 0,9 g
Fibra alimentar 0,9 g
Cálcio 12,9 mg
Vitamina C 48,8 mg
Magnésio 7,7 mg
Lipídios 0,1 g
Fósforo 12,5 mg
Ferro 0,1 mg
Potássio 131,4 mg
Vitamina B1 0,1 mg
6 – Tome um chá
As folhas e a casca da mexerica são famosas por darem bons chás. O chá das folhas é considerado calmante. Já com a casca, ele é usado para auxiliar no processo de digestão, acalmar o estômago e aliviar o estresse. Acompanhado de gengibre e alfazema, pode ser um bom aliado para quem está resfriado.
7 – Negócio da China
A China é a maior produtora de mexerica no mundo, detendo 53% da produção mundial em 2012. Depois vem a Espanha (7%) e, em terceiro lugar, o Brasil, com 4%.
Outros grandes produtores são Turquia, Egito, Marrocos, Japão, Irã, Itália, Estados Unidos, Paquistão, México e Argentina.
8 – Produto nacional
O Brasil produziu 937.819 toneladas de mexerica em 2013. A região Sudeste é a maior produtora, seguida pela Sul.
O Estado com maior produção é São Paulo (323.321 toneladas), depois vêm Paraná (166.379 toneladas) e Rio Grande do Sul (161.921).
Em São Paulo, a tangerina Poncã responde por cerca de 56% do volume produzido. Depois estão a Murcote (37%) e a Cravo (6%).
9 – Gosto do brasileiro
Em 2013, o consumo médio familiar per capita de mexerica no Brasil foi de 1,8 kg. As regiões mais consumidores são a Sul (2,54 kg) e Sudeste (1,38 kg).
Os gaúchos são os que mais comem tangerina (3,89 kg por pessoa), seguidos pelos catarinenses (2 kg), os moradores do Distrito Federal (1,7 kg) e os paulistas (1,7 kg).
Em 2013, 29% dos produtos comercializados pela Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) foram tangerinas: 133 mil de 453 mil toneladas.
10 – Dica da semana
Com toda a polêmica envolvendo a mexerica descascada, a tangerina poncã foi a “dica da semana” no site da Ceagesp. Ela era vendida no atacado por R$ 1,62 o quilo, em média.
Em 2014, cerca de 54 mil toneladas de poncã entraram no Ceagesp, a maioria vinda das cidades paulistas de Vista Alegre do Alto e Limeira, das mineiras Campanha e Três Corações e de Serro Azul, no Paraná.
Fontes: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Ceagesp, HortiBrasil (Instituto Brasileiro de Qualidade em Horticultura), Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas)