Confira a carta de Rose Bassuma ao PSOL

O Mundo reage à perversidade do Sistema

Cresce a crise no mundo, crescerão as multidões, que não aguentam mais as consequências da exploração de suas vidas, da perversidade do sistema que esfola as pessoas em nome da acumulação meramente material, causando aos trabalhadores um estresse profundo, um desespero, ocorrendo em vários países e também no Brasil.

Greves, repúdios às medidas de austeridade propostas pelos governos crescem nas ruas de vários países europeus e árabes, que enchem as praças de Espanha e da Grécia com manifestação de revolta contra o sistema político vigente a reboque do mercado e da lógica do capital.

O Brasil chafurda na corrupção!

A presidente Dilma afirmou que o país se democratizou ao crescer e distribuir renda, o que permitiu que 40 milhões de brasileiros saíssem das camadas mais pobres e chegassem à classe média. Mas não consegue esconder o corte de 50 bilhões de Reais no orçamento em moradia, previdência, infraestrutura, congelamento de salários dos servidores, cortes nos concursos públicos, diminuição no reajuste do salário mínimo, arrocho nos salários, aumento nas taxas de juros.

E para comprovar o péssimo e ineficiente serviço público, o Instituto Nacional de Planejamento Tributário fez um levantamento entre 30 países e concluiu que o brasileiro é o que obtém o pior retorno pelos impostos que paga. No ranking, o Brasil aparece atrás dos vizinhos Uruguai e Argentina.

Sem limites a corrupção vergonhosa impera escancaradamente no Brasil, escândalos de desvios de verbas públicas evidenciados, impunemente, intensificando a falta de políticas públicas, como evidencio abaixo.

A educação constitui um elemento essencial na qualificação produtiva e na prosperidade de qualquer país, avançado ou em desenvolvimento. Ela constitui, também, o principal fator de inserção nos mercados de trabalho, no plano individual, e um elemento chave do perfil distributivo nacional, quando se considera a repartição social da renda.

Dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelam que escolas do Brasil têm 3ª pior taxa de computador por aluno, o número rende ao país o posto de terceira pior colocação no ranking da inclusão digital, à frente apenas de Tunísia e Indonésia.

Segundo os resultados de uma análise minuciosa do PISA, os estudantes brasileiros ocupam apenas a 53ª posição, atrás de nações como Chile, Trinidad e Tobago, Colômbia, México e Uruguai. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) a taxa de desemprego entre jovens de 15 a 24 anos é 3,5 vezes a dos adultos. Este país não está bem e precisa mudar. 

Bahia, governo Neo-Carlista e sua capital, mal tratada!

Governo desalinhado com um planejamento de mobilização política e protagonismo popular, continua seu segundo mandato sem transparência e interlocução com trabalhadores; anunciou números dúbios da alfabetização de 751 mil baianos pelo TOPA nos quatro anos do primeiro mandato.

A realidade revelada pelo Censo 2010 contrariou esses dados, revelando um número real de alfabetizados quase seis vezes inferior. Apenas 132 mil baianos aprenderam a ler e a escrever no período.

Continua um governo numa linha de construção de um “apartheid” cultural, racial, social e educacional. Salvador, cada dia com maior índice de violência, com uma taxa de homicídios de 61 por 100 mil habitantes – cinco vezes maior da que a ONU estabelece como suportável para grandes cidades: 12 por 100 mil. Os números no estado também são altos: 36 por 100 mil habitantes. Esta Bahia e esta capital Salvador não estão bem, e precisam mudar.

Mulheres Livres para agir e pensar

O mundo lembrará da inesquecível praça Tahrir, um marco, num movimento de esperança na transformação social, onde as mulheres transportaram cartazes proclamando “Nós somos raparigas da revolução”, militantemente a certificar-se de que estas revoluções políticas são também revoluções pessoais.

Nós mulheres estamos estabelecendo nossa própria agenda, buscando o direito a uma nova ordem e não estamos à espera que os homens nos libertem. 

Por que me filiei ao PSOL

Ao longo da minha vida 2 momentos foram relevantes: 1- Minha experiência há 25 anos, no bairro do Nordeste de Amaralina, um dos bairros com maior índice de violência, miséria e tráfico de drogas, iniciando minha atuação social, educacional e artística com crianças, como arte-educadora, num trabalho voluntário. Algum tempo depois, muito empolgada com a educação, retorno à UFBA para realizar um novo vestibular e cursar faculdade de Educação, continuando até hoje o trabalho com 140 crianças, turno integral, e junto às famílias, na comunidade. 2- O segundo momento foi muito especial; me desperta o desejo em assumir a militância político-partidária.

Em 2008, decidi concorrer ao mandato de vereadora em Salvador tendo 4.773 votos, ficando na primeira suplência do PT; uma campanha difícil, mas uma experiência de vida positiva, onde muitas relações foram seladas, com muita verdade e ética. Após o mensalão, em 2005, pensei em sair do PT, onde foi realizada uma plenária com mais de 100 pessoas do Estado e a decisão da maioria, depois de muita discussão, foi que deveríamos permanecer ainda no PT, pois a saída seria em bloco.

Em 2009, com a derrocada ética e a sucessão de escândalos, decido sair do PT, motivada com a possibilidade da construção de uma alternativa à Lula, com a candidatura da Marina Silva. Ingressei no Partido Verde, concorri à deputada federal, obtendo quase 20 mil votos. No decorrer da campanha, com maior entrosamento e conhecimento do PV, não pude me furtar à decepção por não encontrar no mesmo uma ideologia partidária e programática, formatada no eixo de uma democracia interna, mas um partido em que os filiados são meros expectadores, seguindo como fantoches diante das decisões da verticalidade dos presidentes. Não aceitei e saí, logo após as eleições. Não conseguiria permanecer num partido onde não pudesse democraticamente participar das decisões políticas, que não houvesse transparência e interlocução com as bases.

Minha visão de mundo e minha ideologia são incompatíveis com qualquer partido conservador de direita. Hoje no Brasil apenas o PSOL é uma alternativa legítima de esquerda socialista. Nessa perspectiva quero militar com minha autonomia e independência política, consciente da realização de um trabalho em prol do seu crescimento na Bahia.

Por tudo isso, manifestei minha vontade em ingressar e militar no Partido Socialismo e Liberdade, por acreditar que neste partido não há espaço para atitudes preconceituosas, mas há sim espaços reais para a construção de uma unidade programática em torno de soluções para os principais problemas da nossa população, e aproveito esta carta para agradecer aos que viabilizaram esta minha filiação.

Alguns esclarecimentos importantes aos que ainda não compreenderam que meu ingresso no PSOL coaduna-se com a construção partidária e com a luta política que o PSOL precisa empreender: 

Sou Rose Bassuma, mulher, militante e independente

Aos que confundem a minha militância com a do ex-deputado Luiz Bassuma, reafirmo minha autonomia e independência. O fato de nossa relação pessoal, constituindo uma família, não faz de mim extensão de Luiz Bassuma, condição aliás que nunca admiti. A dinâmica da vida política fez com que militássemos juntos durante muito tempo, e esta mesma dinâmica hoje me leva a ingressar no PSOL, enquanto o Luiz Bassuma deverá buscar desenvolver sua militância em outro espaço político. Tenho trabalho político próprio, uma base política própria, um foco há mais de 25 anos no trabalho em torno do tema educação.

Qualquer insinuação em sentido contrário encerra-se dentro do lamentável machismo que ainda reside na cultura de muitos homens e mulheres, e que infelizmente ainda existe em todas as agremiações partidárias, inclusive as de esquerda. 

Minha posição a respeito da luta LGBT

Dirigentes do PSOL na Bahia e em nível nacional estão organizando um ato de boas vindas pelo meu ingresso no partido. Uma das lideranças do PSOL que estão – e hoje posso dizer que estamos, trazendo para este momento especial é o deputado federal do PSOL pelo Rio de Janeiro, Jean Wyllys, que é baiano, e é certamente hoje a maior referência da luta LGBT no Brasil. Creio que esta nossa disposição, agregada à nossa história militante, são absolutamente esclarecedoras sobre nosso respeito e abraço a esta causa. 

Sobre o aborto: o que deve prevalecer é a posição do PSOL

Minha posição acerca do aborto é conhecida. Defendo a cultura da vida. Neste tema, guardadas as devidas proporções, penso como os dois militantes do PSOL que já disputaram a presidência da República, Heloisa Helena e Plínio de Arruda Sampaio. Contudo, o PSOL tem posição votada a respeito e é com esta posição que os militantes e principalmente os representantes do partido devem comprometer-se. Internamente no partido, jamais negarei as minhas posições políticas e concepções filosóficas. Publicamente, jamais deixarei de colocar também essas mesmas posições como de cunho pessoal. Porém, a posição política enquanto representante do partido em qualquer espaço deve ser aquela que o partido assume como a sua. A minha disposição é levar isto como princípio, inclusive com a disposição de licenciar-me de qualquer posto que por ventura vier a assumir, para que outro militante possa, sem objeções de sua consciência, fazer valer a posição do partido e não a minha posição pessoal.

É com esta disposição e compromisso que estamos ingressando no PSOL, na esperança de construirmos uma grande frente de resistência em defesa do nosso povo. O partido que estamos entrando é o partido que se reconhece em nossa combativa bancada no senado, com Randolfe e Marinor, em nossa combativa bancada na Câmara, com Chico, Jean e Ivan. É o partido que se reconhece na luta do Marcelo Freixo e da Janira no Rio de Janeiro, do Giannazi em São Paulo, o partido da Heloisa Helena, do Plínio, da Luciana Genro, é o partido do Hilton, do Hamilton e do Marcos Mendes na Bahia, e de tantos outros. É neste partido, com esta diversidade socialista, que estamos entrando e é neste partido que temos plena confiança de que seremos bem recebidos.

 
Fonte: Rose Bassuma

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