“Um crê que pode comer de tudo; já outro, cuja fé é fraca, come apenas alimentos vegetais. Aquele que come de tudo não deve desprezar o que não come, e aquele que não come de tudo não deve condenar aquele que come, pois Deus o aceitou.” (Romanos 14.2-3)
O cristianismo nasceu num mundo muito religioso, politeísta, em meio a muitos templos e ritos. Ele não nasceu num mundo dominado pela racionalidade. A cultura grega foi tanto berço para a filosofia quanto para as divindades. Para o exercício da mente na tentativa de compreender a vida como para o exercício do espírito na tentativa de lidar com os deuses. As cidades, as polis gregas, tinham templos famosos e cultos dos mais diversos. Os judeus, dominados pelos romanos, viviam em meio à cultura grega, mas sua religiosidade era monoteísta, seu templo estava em Jerusalém. Tanto sua religião quanto a dos gregos e romanos envolviam diversos rituais, dias especiais, festas e alimentos. Proibições e permissões, como forma de agradar e receber aceitação divina. Foi nesse mundo intensamente religioso que o cristianismo surgiu. E nasceu rompendo com tudo isso.
Paulo, com formação e preparo para ser um líder judeu, conhecia muito bem os ritos e cerimônias judaicas, mas sua fé em Cristo levou-o a um caminho totalmente diferente e novo. Ele se percebeu livre de tudo em Cristo. Sua fé saiu dos ritos para a relação e a devoção que orientou seu estilo de vida. E não se cansou de ensinar isso a judeus e a gentios (não judeus). Combateu a tentativa dos líderes judeus, inclusive entre os apóstolos, de judaizar as igrejas. E combateu o espírito de julgamento e dominação que marcava seu passado religioso e de onde vinham também muitos dos que formaram as igrejas cristãs. Era tempo de cada um sentir-se livre para andar com Deus e buscar agradá-lo. Ele não tentou uniformizar. Eram pessoas diferentes, com convicções e hábitos diferentes. Em seus ensinos ele buscou: no essencial, concordância; no não essencial, a liberdade; e, em tudo, amor.
Por isso ele fala de comida com os cristãos de Roma. Ele considerou que Deus aceitava tanto aquele que se privava de comer algo por julgar inadequado quanto o que comia, por não ver problema algum. Ainda hoje temos irmãos que guardam dias e dietas e outros, não. Não estamos obrigados a buscar concordância de todos em tudo e não devemos colocar no nível de “essencial” aquilo que de fato não é. Quanto mais apegados a religiosidade, maior será nosso conjunto de coisas essenciais, podendo chegar a corte de cabelo, cumprimento ou tipo de roupa e muitas outras coisas. Somos chamados à maturidade, para que andemos unidos em nossa diversidade, amando-nos e assim honrando a Deus, em lugar de julgar e condenar uns aos outros. Que, orientados pelo Espírito Santo, sejamos cristãos maduros, no essencial, no não essencial e amando todos, em tudo!