Compadecimento

“Quando o viram à distância, mal puderam reconhecê-lo e começaram a chorar em alta voz. Cada um deles rasgou o manto e colocou terra sobre a cabeça. Depois se assentaram no chão com ele, durante sete dias e sete noites. Ninguém lhe disse uma palavra, pois viam como era grande o seu sofrimento.” (Jó 2.12-13)

A história de Jó entra numa nova cena quando seus amigos sabem de sua tragédia e vêm a ele. Os versos de hoje ampliam nossa ideia de como era séria a situação. Jó está quase irreconhecível. Seus amigos caem em pranto, rasgam seus mantos e jogam terra sobre a cabeça. Compadecimento – padecer com. É o que fazem e acertam ao fazerem. Ficam ao lado do amigo ferido. Nada dizem e com isso dizem muito, o bastante. O que de melhor fizeram por Jó está nesses versos. Quando tentam fazer algo mais, erram. E erram de forma bastante reveladora, como chegaremos a ver.

É linda a atitude dos amigos de Jó ao se igualarem a ele. Ao tentarem olhar tudo a partir do ponto de vista dele. Isso é compadecimento. É o que Deus fez por nós por meio de Cristo Jesus. Ele veio a nós, ficou do nosso tamanho. Tornou-se minúsculo, quase nada, dentro do próprio universo que havia criado. Inclusive dependeu do que dependemos para sustentar nossa vida física: alimento, ar, descanso, amigos, abrigo, água, aquecimento… E enquanto fazia isso foi nos mostrando o que pode dar sentido a esta vida que tanto lutamos para manter. Nos indicou o pão imaterial.

Quando imitamos Deus no modo como Ele lida conosco ao lidar uns com os outros, escolhemos o melhor caminho para nossos relacionamentos. O problema é a visão que temos de Deus. E é desastroso quando um deus que não é Deus se torna nosso paradigma. A história está cheia de exemplos, atrocidades, feitas em nome de Deus! Por isso a jornada cristã será sempre marcada por imagens que precisam ser quebradas e refeitas. Por isso nossas ilusões sobre Deus precisam de golpes duros para que sejamos salvos de outros deuses. E quanto mais apegados a ilusões, menos entendemos os golpes e mais duros eles precisam ser. A questão do livro não é Jó. Somos nós.

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