Os possíveis efeitos do coronavírus no sistema respiratório e, principalmente, no coração podem afetar a prática esportiva. Daí porque a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) e a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) publicaram um documento com orientações para o retorno seguro às atividades físicas após a infecção pelo Sars-CoV-2.
As diretrizes trazem indicações tanto para atletas profissionais como para quem se exercita em busca de saúde e diversão. Confira, abaixo, as principais recomendações.
Quando é seguro voltar aos exercícios?
De acordo com Marcelo Leitão, presidente da SBMEE e um dos criadores do trabalho, há dois pontos a considerar. O primeiro é a capacidade de transmitir a doença.
Afinal, mesmo quando os sintomas cessam, é possível que ainda haja uma carga viral no organismo capaz de infectar outros. É necessário esperar pelo menos 14 dias sem ter quaisquer sinais da Covid-19 para se considerar curado (saiba mais clicando aqui). “E o isolamento vale não apenas para a prática esportiva, mas para o convívio com outras pessoas”, completa.
A outra questão a refletir é o tamanho do estrago que o Sars-CoV-2 provocou. Casos mais graves em geral geram sequelas que demoram mais para sumirem. E cada uma dessas complicações vai exigir uma avaliação profissional para verificar quanto interferem no exercício físico.
“Independentemente de tudo isso, o retorno deve ser gradual”, orienta Leitão. Nem pense em buscar o mesmo desempenho de antes da infecção logo na primeira sessão de ginástica.
Qual a intensidade e frequência dos exercícios?
Após se livrar do coronavírus, aquela recomendação geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) continua valendo. São pelo menos 150 minutos de exercícios aeróbicos leves a moderados por semana ou 75 minutos de atividade intensas. E duas sessões semanais de treinamento de força.
Porém, não esqueça que o retorno aos esportes tem que ser progressivo.
Orientações para quem teve Covid-19 leve ou assintomática
Os autores da diretriz defendem que, mesmo nesses casos, é bom passar por uma consulta e realizar um ecocardiograma (ECG). O exame checa o funcionamento do coração.
Se houver alguma queixa por parte do paciente, o médico pode solicitar um teste de sangue que verifica a presença de um marcador de lesões miocárdicas, a troponina T. Se tudo estiver ok, desenha-se um plano de retomada da atividade física.
Para quem teve Covid-19 moderada e grave
Aqui é preciso um pouco mais de cautela, porque indivíduos que foram internados em decorrência da pandemia possuem um risco maior de sequelas cardíacas, como miocardite.
No documento da SBMEE e da SBC, são listados exames adicionais que podem ser realizados. O teste cardiopulmonar de exercício (TCPE) seria o principal. Ele é considerado o padrão-ouro na avaliação da capacidade de ventilação dos pulmões.
“Mas a escolha dos exames mais adequados depende do quadro do paciente e das informações repassadas para o médico”, afirma Leitão.
O médico do esporte Luiz Riani, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) que não participou do estudo, acredita que os testes mais importantes após uma triagem inicial são o ecodopplercardiograma, o TCPE e, para bater o martelo, a ressonância cardíaca.
“Eu sugiro que quem pegou o coronavírus, seja qual tenha sido a gravidade, procure um médico do esporte ou cardiologista. Eles têm os conhecimentos específicos para fazer essa análise”, aconselha Riani.
Leitão acrescenta que os pacientes que chegaram a ser entubados ou tiveram lesões cardíacas comprovadas demandam supervisão mais próxima. “Eles precisam passar por um período de reabilitação que dura algumas semanas”, completa.
Acompanhamento prolongado
Principalmente quem sofreu com as formas graves e moderadas da Covid-19 deve voltar a conversa com o doutor após 60 dias (ou conforme a orientação dele). “As pessoas não devem menosprezar os sinais do corpo. Elas não estão livres de manifestações tardias”, alerta Leitão.
Caso você sinta palpitação, falta de ar ou cansaço desproporcional ao suar a camisa (ou depois disso), vá ao consultório. Isso vale mesmo para quem se livrou da Covid-19 sem sofrer muito.
Fonte: Saúde.abril