“Talvez ele tenha sido separado de você por algum tempo, para que você o tivesse de volta para sempre, não mais como escravo, mas, acima de escravo, como irmão amado. Para mim ele é um irmão muito amado, e ainda mais para você, tanto como pessoa quanto como cristão. Assim, se você me considera companheiro na fé, receba-o como se estivesse recebendo a mim. Se ele o prejudicou em algo ou lhe deve alguma coisa, ponha na minha conta.” (Filemom 1.15-18)
Quando Paulo tornou-se cristão, na experiência do caminho de Damasco (Atos 9), seu primeiro contato com os demais cristãos não foi muito fácil. Todos desconfiavam dele, pois havia sido um perseguidor violento dos cristãos. Estevão, o primeiro mártir cristão, foi morto sob a supervisão do então fariseu Paulo, ou Saulo. Assim, era natural que o temessem e desconfiassem de sua conversão. Havia realmente se convertido ou se tratava apenas uma forma de descobrir e perseguir mais cristãos? Na época, Barnabé, um cristão muito respeitado e amado por todos, foi procura-lo e, usando sua credibilidade, integrou Paulo à comunidade cristã (At 11.25). Os dois tornaram-se companheiros na primeira viagem missionária de Paulo.
Aprendemos a ser cristãos com cristãos. A fé cristã não se desenvolve apenas a partir de ideias ou conceitos, mas principalmente por meio de relacionamentos, de exemplos. Por isso Jesus “andou” com seus discípulos e muitas vezes disse “assim como eu fiz vocês devem fazer”. Para nosso prejuízo e para fraqueza do cristianismo ao longo da história, fomos nos convencendo de que somos cristãos porque sabemos certas coisas, porque acreditamos em certas coisas. Mas a fé cristã é dinâmica e relacional, manifestando-se por atitudes, e atitudes amorosas. Como Onésimo seria recebido por Filemom ao retornar? Que credibilidade tinha? Estava voltando porque fracassou em sua fuga ou realmente era verdade sua história de conversão? Tudo ficaria bem porque Paulo tornou-se o Barnabé de Onésimo.
Paulo lhe emprestou sua credibilidade, pedindo a Filemom que o recebesse não como a um escravo fugitivo, mas como a um irmão em Cristo. Acho muito bonita a atitude de Paulo em dizer: “o prejuízo que ele lhe causou, coloque em minha conta”. Não foi o que Jesus fez por nós? Não assumiu nossas dívidas? Talvez fosse mais fácil para Filemom ser um não cristão e poder lidar com o escravo fugitivo conforme o costume. Mas ele era um cristão e isso mudava tudo! Neste mundo que vive esquecido de Deus, viver como gente de Seu Reino é e será sempre desafiador, mas muito melhor que viver como súdito do reino dos homens. Por isso, importe-se, aproxime-se, sirva, comprometa-se, seja o Barnabé da vida de alguém. Não dá para ser cristão sem isso.