Coisas da vida

Coisas da vida

Ela está em um abrigo com 90 anos, diz, “Amanhã eles estarão aqui e tornarei a pensar”. Eles beijarão minha mão, farão votos de que eu ainda tenho muitos anos de vida, como vai vovó? Como vai a senhora? E eu escrutarei seus rostos. Não falem todos ao mesmo tempo, chegue aqui, venha sentar perto de mim, me conte o que você tem feito, farei a pergunta sabendo muito bem que serei tapeada. E, é para ser tapeada que ouvirei as poucas palavras fúteis que eles pronunciarão. É só isso que vocês têm a me dizer, não têm vontade de falar com sua avó?

Eles trocarão um olhar, falarão entre si, eu os ouvirei e entenderei o que dizem. E acabarão gritando. Não grite, não gritem ainda tenho bom ouvido, graças a Deus! Desculpe, vovó, é que a mãe de mamãe não ouve direito. Não sou a mãe da mãe, sou a mãe do pai de vocês!
Desculpe, desculpe! Está bem, está bem, contem alguma coisa, contem tudo, o quê? Ora, falem da sua outra avó, por exemplo, como ela vai, o que tem feito? Eles se calarão bruscamente, embaraçados: é mesmo, o que nossa outra avó tem feito? Compreenderei então que eles ainda não se interessam nem por mim, nem pelo quarto em que estou, nem por minhas perguntas, apenas seus próprios pensamentos os preocupam, e eu me vejo sozinha novamente. Viver é passar e ser esquecido.

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